Diz-se que, ao lado de grandes homens, existe uma mulher, esposa, irmã ou mãe, que lhe serviu de sustentáculo e apoio.
Pois, por detrás de grandes conquistas ou eventos, em geral, existe um benfeitor, quase sempre ignorado das criaturas.
Publicações preciosas, estudos científicos, descobertas, têm mecenas que abriram seus cofres e ofereceram valores para a sua concretização.
Gabriel Delanne, considerado apóstolo do Espiritismo, pelo seu trabalho de divulgação, certa vez recebeu uma carta de uma senhora, que lhe pedia fosse a Versalhes, onde ela morava.
Desejava, confessava ela, lhe dar conhecimento de algo importante referente ao Espiritismo.
A carta estava escrita em papel inferior, redigida em termos obscuros, em estilo descuidado e cheia de erros de francês, além de falhas de ortografia.
Delanne se sentiu tentado a desconsiderá-la. Todavia, após refletir, decidiu ir ao encontro que lhe era assinalado.
A residência indicada, uma casa antiga, ficava num quarteirão distante, na extremidade de um subúrbio, nos fundos de velho pátio.
Depois de tocar a campainha três vezes, ouviu um passo pesado e a porta se entreabriu. Delanne entrou, sentou-se e ficou observando o ambiente, que lhe pareceu estranho.
Com um acento inglês, a mulher começou a expor a ideia de fundar um pequeno jornal para divulgar o Espiritismo.
Mas, senhora, respondeu ele, é preciso dinheiro. Isso custa muito caro.
A mulher se dirigiu, com seu passo pesado, para uma mala que Gabriel havia visto ao entrar.
Ela a abriu, apanhou um maço de velhos papéis e retirou uma enorme pasta de couro.
De uma das bolsas apanhou cinco notas de mil francos, que colocou, tranquilamente, diante de Delanne.
Naquela época, ano de 1883, cinco mil francos representavam uma soma com a qual se podia tentar uma operação comercial.
Aqui está, disse ela. Para as primeiras despesas. Depois, eu fornecerei o mais que seja necessário. O senhor aceita redigir o jornal?
E, foi assim, graças à generosa inglesa, que não era outra senão a senhora D’Espérance, médium de feitos extraordinários, ainda não conhecida na França, que a revista Le Spiritisme veio a lume, em março de 1883.
Foi grande veículo de divulgação da nova doutrina. E Gabriel Delanne conservou a maior admiração por aquela que assim dispôs dos seus bens.
Imensamente grato, gostava de narrar a seus íntimos a história do inusitado encontro e do exitoso final.
* * *
Para o seu messianato, também Jesus contou com pessoas bem aquinhoadas que financiavam Seu apostolado, Suas viagens e dos companheiros que Ele elegera para o colégio apostólico.
Lucas, em Seu evangelho, cita Susana, Madalena, Joana, a mulher do intendente de Cusa.
O trabalho do bem se realiza com o esforço de todos. E, cada qual colabora com o que tenha: uns dispõem dos valores, outros do seu trabalho e esforço pessoal.
Assim se constrói o mundo novo. Ontem, hoje e amanhã.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 1,
do livro Gabriel Delanne, vida e obra, de Paul Bodier e
Henri Regnault, ed. CELD.
Em 17.3.2015.
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