O que devo dizer sobre Seu discurso? Talvez algo sobre Sua pessoa conferir poder a Suas palavras e embalar aqueles que O ouviram.
Pois Ele era gracioso, e o brilho do dia encontrava-se em Seu semblante.
Ele contava uma história ou narrava uma parábola, e o conteúdo de Suas histórias e parábolas nunca fora ouvido na Síria.
Ele parecia tecê-las com o sabor das estações, como o tempo tece os anos e as gerações.
Ele começava uma história assim: “O lavrador encaminhou-se ao campo para plantar suas sementes.”
Ou: “Havia um homem muito rico que possuía diversos vinhedos.”
Ou: “Um pastor contou suas ovelhas ao cair da noite e descobriu que faltava uma.”
E essas palavras conduziam Seus ouvintes ao ser mais simples dentro de si e aos mais remotos de seus dias.
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No coração, somos todos lavradores e todos amamos os vinhedos. E, nos pastos de nossa memória, há um pastor e um rebanho e a ovelha perdida.
E há a relha do arado e a prensa do lagar e a eira.
Ele conhecia a fonte de nosso ser mais remoto e o persistente fio do qual somos tecidos.
Os oradores gregos e os romanos falavam para seus ouvintes da vida como ela parecia à mente. O Nazareno falava de um anseio que se alojava no coração.
Eles viam a vida com olhos apenas um pouco mais claros do que os vossos ou os meus. Ele via a vida à luz de Deus.
Costumo pensar que Ele falava às multidões como uma montanha falaria à planície.
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Jesus é a montanha e todos nós, Espíritos em evolução, somos a imensa planície terrestre.
Dentre nós, temos aqueles que, ainda de cabeça baixa ao longo das eras, nem vislumbramos a cordilheira exuberante.
Outros, que já a encontramos no horizonte, permanecemos em estado de contemplação constante e distante.
A montanha não existe apenas para ser contemplada pela gigantesca planície, ela está lá para ensinar a planície a alcançar as nuvens.
E finalmente, temos aqueles que desejam ser montanha e trabalham para isso. Não se queixam por não estarem no Alto como o Mestre, e extraem dEle o estímulo e o exemplo para continuar.
Fomos criados planície, mas nosso destino final é ser montanha.
Alguns já somos pequenos montes, serras discretas, seguindo, contudo, o caminho certo rumo ao Alto. Não o alto das nuvens ou do céu, simbólicos, mas ao alto da evolução, do amor completo na alma.
Sigamos a montanha Jesus, não como meros contempladores inertes, mas como imitadores ativos, perguntando:O que Ele faria nesta situação? Qual o caminho que Ele apontaria? O que a Montanha tem a me dizer neste momento?
E tenhamos certeza de que a Montanha, observando a planície, com muito amor e carinho, estenderá Seus braços desvelados para nos ajudar sempre que precisarmos dela.
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Costumo pensar que Ele falava às multidões como uma montanha falaria à planície.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. Asaf,
chamado orador de Tiro, do livro Jesus, o Filho do Homem,
de Khalil Gibran, ed. Ediouro.
Em 20.2.2015.
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