Momento Espírita
Curitiba, 24 de Novembro de 2024
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ícone Os miseráveis

Conta-nos Victor Hugo, em seu livro Os miseráveis que, na França, no século dezoito, viveu um homem que se chamava Jean Valjean.

Na prisão passou boa parte de sua juventude, embrutecendo seu espírito, acostumando-se a ser tratado como uma fera e agindo como tal.

Quando foi posto em liberdade, após o cumprimento da pena, recebeu um documento que, segundo lhe disseram, informava seu nome e mencionava que ele era um ex-condenado muito perigoso.

Na verdade, seu crime fora ter quebrado uma janela e ter roubado um pão para se alimentar e aos filhos de sua falecida irmã, que estavam sob seus cuidados.

Embora livre, seu futuro era incerto.

Vagava entre um vilarejo e outro, quando, numa noite muito fria, atreveu-se a bater na porta de uma casa que alguém lhe indicou como sendo de um homem piedoso.

Um senhor de expressão bondosa e serena o atendeu e, sem fazer perguntas, convidou-o para entrar e comer.

Valjean entrou, sem acreditar que alguém o pudesse receber com tão poucas reservas e de forma tão acolhedora.

Quem assim o recebia era o Monsenhor Benvindo, homem caridoso e bom.

Era assim que ele tratava qualquer criatura que batesse à sua porta, a qualquer hora e em qualquer circunstância.

Sem questionamentos, servia o que de melhor tinha e tratava o mais simples viajante como se fosse um irmão muito querido.

Era esse o tratamento que oferecia a Valjean que, embora desconfiado, comeu sem cerimônias e aceitou, sem hesitação, a oferta para dormir ali.

Na calada da noite, porém, abandonou o vilarejo correndo, carregando um pequeno embrulho e levando em seu coração muita culpa.

Traindo a confiança e a bondade do monsenhor, Valjean roubara-lhe os talheres de prata e partira sem destino, nem rumo certo.

Na manhã seguinte, entretanto, foi levado por guardas à presença do seu anfitrião, uma vez que, tendo sido preso portando tais preciosidades, alegou tê-las recebido de presente do bondoso senhor.

O monsenhor recebeu soldados e acusado com tranquilidade dizendo que deveriam soltar Valjean porque ele havia lhe dado toda sua prataria e que, embora Valjean tivesse levado os talheres, havia esquecido de levar os castiçais.

Os guardas, espantados, partiram, deixando Valjean com o monsenhor que, sem demora, colocou junto aos talheres os castiçais de prata que possuía.

O ex-condenado, ante aquela atitude, arrependeu-se ainda mais de sua vergonhosa conduta da madrugada.

O doador, porém, segurou-o pelos braços e olhando-o fixamente nos olhos, disse-lhe:

Jean Valjean, empregue o dinheiro obtido com a venda dessa prataria no esforço de tornar-se um homem de bem.

Tomado de espanto pela atitude inesperada, Valjean partiu sem jamais esquecer aquela promessa que, embora não tivesse partido de seus próprios lábios, guiou seus passos pelo resto de sua existência.

*   *  *

Deus auxilia os homens através dos próprios homens.

Vale-se daqueles que se dispõem a ser instrumentos divinos, na tarefa de auxílio e conforto aos seus irmãos.

Por vezes, gestos inesperados e até singelos, são capazes de verdadeiros prodígios para aqueles que os recebem, modificando-os para sempre, conduzindo-os de forma definitiva para o caminho do bem.

Redação do Momento Espírita, com base no
livro
Os miseráveis, de Victor Hugo, ed. FTD.
Em 21.1.2015.

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