Naquela noite, Simão Pedro tinha o coração amargurado e entristecido.
Aborrecera-se com parentes rudes e de difícil trato.
O velho tio o acusara de dilapidar os bens da família e um primo o ameaçara esbofetear.
Guardava, por isso, o semblante carregado e austero.
Procurou o Mestre e desabafou.
Ao término do longo relato, o Mestre indagou:
E que fizeste, Simão, ante a conduta de teus familiares incompreensivos?
Reagi como devia. – Respondeu apressadamente. – Coloquei cada um no seu lugar, anunciando em alto e bom tom as más qualidades de que são portadores.
Meu tio é raro exemplar de sovinice e meu primo é mentiroso contumaz.
Provei, perante numerosa assistência, que ambos são hipócritas, e não me arrependo do que fiz. – Disse Pedro, de forma veemente.
O Mestre refletiu por longos minutos e falou calmamente: - Pedro, o que faz um carpinteiro na construção de uma casa?
Trabalha, naturalmente. – Respondeu o discípulo irritadiço.
Com o quê? – Tornou a perguntar o Celeste Amigo.
Usando ferramentas. – Disse Pedro, sem entender aonde o Mestre pretendia chegar.
Após um breve momento de silêncio, Jesus continuou:
As pessoas com as quais vivemos na Terra são os primeiros e mais importantes instrumentos que recebemos do Pai, para a edificação do reino do céu em nós mesmos.
Os parentes difíceis, na maioria das vezes, são o martelo ou o serrote que podemos utilizar a benefício da nossa reforma íntima.
Em todas as ocasiões, o ignorante representa para nós um campo de benemerência espiritual; o mau é desafio que nos põe a bondade à prova; o ingrato é um meio de exercitarmos o perdão; o doente é uma lição à nossa capacidade de socorrer.
Calou-se Jesus e, talvez porque Pedro tivesse ainda os olhos cheios de questionamentos, acrescentou serenamente:
Se não ajudamos ao necessitado de perto, como auxiliaremos os aflitos distantes? Se não amamos o irmão que respira conosco os mesmos ares, como nos consagraremos a Deus que está no céu?
Depois dessas perguntas, pairou na modesta sala um expressivo silêncio que ninguém ousou interromper.
* * *
A família constitui o núcleo mais notável de aprendizagem nas atividades de renovação espiritual.
Busquemos não agredir com palavras agressivas ou com silêncios gelados aqueles que estão à nossa volta na luta doméstica.
Aprendamos a dialogar para solucionar problemas, conversando equilibradamente.
Não cobremos afeição dos amores, nem reclamemos consideração que, talvez, ainda não tenhamos feito, nem estejamos fazendo nada por merecer.
Agradeçamos mesmo as mínimas coisas, sendo gentis e alegres, sem hipocrisia.
Trabalhando com discernimento, burilando nossas próprias imperfeições, alcançaremos, pouco a pouco, a paz no lar, que há de nos propiciar, por consequência, alegria e renovação em nossa caminhada.
Redação do Momento Espírita, com base no
cap. 6, do livro Jesus no lar, pelo Espírito Neio Lúcio, psicografia
de Francisco Cândido Xavier, ed. FEB e no cap. 4, do livro Vereda familiar,
pelo Espírito Tereza de Brito, psicografia de José Raul Teixeira, ed. FRÁTER.
Em 6.1.2015.
Escute o áudio deste texto