Perseverança é a qualidade que mantém o homem em pé, enfrentando o vento. É a virtude que pode transformar a provação mais severa em glória, porque, além da dor, vê o alvo.
Perseverança teve Beethoven. Iniciando sua surdez, aos vinte e seis anos de idade, não deixou de compor. Suas mais belas sinfonias foram criadas após sua total surdez, inclusive a Nona Sinfonia.
Ele não conseguia ouvir os aplausos do público, nem o que lhe falavam as pessoas ou os críticos, mas a música dentro dele brotava como as águas abundantes de um generoso rio.
Na atualidade, ainda no mundo da música, outro grande exemplo se destaca.
Ele principiou seus estudos de piano aos oitos anos, aos treze iniciou sua carreira no Brasil e aos dezoito, no Exterior.
Seus concertos, no Carnegie Hall, após a sua estreia aos vinte e um anos, em apresentação patrocinada por Eleanor Roosevelt, sempre tiveram lotação esgotada.
Seu martírio começou em 1966, quando machucou um nervo, na altura do cotovelo direito, ao cair sobre uma pedra em Nova York, num jogo de futebol.
Anos depois, na Bulgária, sofreu um assalto e foi golpeado na cabeça com uma barra de ferro.
Em seguida, descobriu um tumor na mão esquerda e uma doença neurológica que o impedia de estender os dedos superiores.
As dores intensas colocaram um ponto final em sua carreira de pianista em 2002.
Mas a música é sua vida e ele retornou aos palcos, como maestro. Apresentou-se com sucesso em Londres, Paris e Bruxelas, como regente convidado, imprimindo em suas interpretações a mesma dinâmica de quando era pianista.
Precisou esforçar-se para se adaptar. Como não conseguia virar as páginas de uma partitura, teve de reger tudo de cor.
Também não conseguia segurar a batuta.
Sete meses depois de começar a reger, foi a Londres conduzir a famosa English Chambert Orchestra.
Logo no primeiro ensaio, errou um movimento e notou alguns sorrisos.
Ficou nervoso. Pediu licença e, diante do espelho, disse para si mesmo: João, tenha a certeza de que você vai transmitir sua mensagem fora do piano. Volte lá e se imponha.
Foram três dias de trabalho, gravando os concertos de Brandemburgo, de Bach. No último dia, o oboísta se levantou e falou:
Maestro, daqui por diante, sempre que estivermos sem regente, vamos interpretar Bach à sua moda.
E toda a orquestra aplaudiu.
Contudo, retornar ao piano era seu sonho. Por isso, aos setenta e dois anos, aceitou se submeter a uma cirurgia para implante de eletrodos no cérebro.
Conectados a estimuladores elétricos, eles ajudaram João Carlos Martins a recuperar os movimentos do lado esquerdo.
E ele tem estudado piano como se fosse um menino que começou a tocar há pouco tempo. Passa de cinco a nove horas por dia dedilhando as escalas mais elementares com a mão esquerda.
Ele não conseguia tocar com todos os dedos dessa mão há quase dez anos. Em verdade, não conseguia abri-la.
Emocionado, em entrevista recente, quando lhe perguntaram o que sentiu ao reestrear, como pianista, ele se permitiu inundar de lágrimas os olhos, olhar para as próprias mãos e dizer o quanto era agradecido a Deus por voltar a acariciar o piano, a extrair dele os sons sublimes e poder prosseguir a tocar até o final dos seus dias.
Perseverança! Quanto conquistaremos se te abraçarmos.
Redação do Momento Espírita, com dados biográficos
de João Carlos Martins, extraídos do site
http://www.fundacaobachiana.org.br.
Em 26.2.2014.
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