Um ouvinte nos escreveu perguntando se Judas, ao nascer, trouxe a missão de trair o Cristo. Argumenta que, se não houvesse um traidor, Jesus não teria sido preso e supliciado. O que quer dizer, que as profecias não se cumpririam.
Na verdade, mesmo sem Judas, mais cedo ou mais tarde, Jesus teria sido preso, sim. Os sacerdotes do Templo já estavam armando todo o plano.
Bom recordar que todos renascemos com um programa de vida. Traçamos, no mundo espiritual, antes de adentrar no corpo de carne, as linhas gerais da nossa reencarnação. Linhas que obedecem às nossas condições espirituais e necessidades de resgate, isto é, de pagamento das faltas cometidas.
Contudo, ninguém nasce predestinado a praticar o mal. Se assim fosse, cairia por terra a Lei de Progresso e a Justiça Divina. A Lei de Progresso porque se poderia admitir que alguém poderia dar passos para trás e a Justiça Divina porque se Deus assim dispusesse, não poderia depois realizar a cobrança pelo mal praticado.
Todas as diretrizes que antecedem a reencarnação, o renascimento na carne, são as que têm a ver com o crescimento do Espírito e pagamento das suas dívidas.
Judas, portanto, não nasceu com a missão de trair o Cristo. O seu ato foi deliberação sua, envolvido por paixões que ele não conseguiu resolver.
Convidado a ser um dos doze para compor o colégio apostólico, não entendeu a Mensagem Divina do Messias.
Judas era da cidade de Karioth. Comerciante. Por isso mesmo habituado a lidar com valores, com moedas. Tinha cabeça para o comércio. Objetivava lucros. Era o responsável por carregar e administrar as poucas moedas que, nas andanças com Jesus, possuíam os apóstolos. Para suas despesas mais necessárias, necessidades básicas.
À semelhança de muita gente em Israel, Judas entendia que o Messias viera para a libertação do povo da escravidão romana. Era o libertador. Alguém semelhante a Moisés, que tirara do Egito os filhos de Abraão.
Intimamente acreditava que Jesus, se colocado em posição que lhe pusesse em risco a vida, tomaria uma atitude. O poder de Jesus ele conhecia. E confiava. Confiava que Jesus agiria, chamasse as forças celestes e subjugasse o poder de Roma. Seria o sinal para a total libertação.
Jesus seria o rei de Israel. Ele, Judas, um dos seus mais fiéis servidores. Era o entendimento do mundo que fazia com que Judas se deixasse envolver por tais pensamentos. O reino de Deus, de que falava o Messias, não havia ainda sido compreendido por ele. Por isso decide negociar com os sacerdotes do Templo. Entregar o amigo em troca de trinta moedas.
Quando observa Jesus sendo julgado, arrastado, humilhado, sem nada fazer, ele entende. Jesus jamais agrediria ninguém. Seu reino não era deste mundo. Era o reino do Espírito o que Ele falava e pregava.
Apavora-se. Tenta devolver as moedas. Desfazer o negócio. Mas somente encontra a ironia daqueles que, com habilidade, haviam se servido da sua ambição e da sua ignorância acerca dos verdadeiros valores.
Como não consegue que a vida de Jesus seja poupada, toma-se de vergonha. Infelizmente, a vergonha foi tanta que o conduziu ao trágico ato do suicídio.
As informações espirituais são de que o próprio Jesus o socorreu após a morte. E Judas, como todo Espírito que erra, renasceu muitas vezes para saldar o seu débito com a Lei Divina.
Hoje é uma alma reabilitada que serve na Seara de Amor do Mestre Jesus.
Falhou, errou. Pagou com lágrimas, dores e trabalho o seu erro.
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Há registros de que, com as trinta moedas que Judas devolveu ao Templo, foi adquirido um campo para servir de cemitério aos forasteiros e peregrinos que morressem em Jerusalém.
O terreno ficou conhecido como campo de sangue.
No lugar de Judas, para compor os doze, os apóstolos escolheram Matias.
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O teu ofensor merece tua compaixão, nunca a tua vingança.
Redação do Momento Espírita, com
base no cap. 178, do livro Jesus Nazareno, v.2, de
Huberto Rohden, ed. União Cultural.
Em 19.12.2013.