Quase sempre, quando realizamos algum ato de bondade, esperamos por gratidão. Desejamos que alguém reconheça o nosso ato, que ao menos alguém tenha observado e percebido nosso gesto nobre.
Ou então, em nossa ânsia de ajudar alguém, deixamos de perceber como a nossa dádiva pode ser embaraçosa para uma pessoa sensível. Ou mesmo, como pode parecer pesado, para quem recebe, o dever da gratidão.
Dar, pois, é um ato de sabedoria. Um escritor inglês fala de uma família mais ou menos próspera, que conheceu certa vez.
Havia uma tia idosa que vivia com uma ninharia, e, por isso mesmo, com dificuldades. Mas, ela alimentava verdadeiro horror a qualquer coisa que pudesse lhe parecer caridade.
Quando o chefe da família soube, através de um advogado, que ela havia herdado uma pequena herança de um primo distante, em verdade, somente algumas libras que seriam gastas em pouco tempo, arranjou secretamente, com o advogado, para que fosse adicionado à herança um capital considerável que ele mesmo providenciou.
Assim se fez e a tia viveu confortavelmente, sem jamais suspeitar do que fizera aquele bondoso sobrinho.
Em realidade, dentro do círculo familiar encontramos, por vezes, inúmeras oportunidades de auxílio oculto.
Conta-se o caso de um tal senhor Hubert que encontrou uma excelente solução para um constrangedor problema de família.
O pai, que com ele morava, havia sido famoso por suas esculturas em madeira. Com a idade, muita da sua habilidade se perdera.
Assim, o ancião ia frequentemente dormir com o coração partido por constatar que não conseguia esculpir como antes.
Pois o senhor Hubert teve a ideia de se levantar à noite, enquanto o pai dormia, para retocar o trabalho que aquele fazia durante o dia.
Com golpes hábeis, corrigia os defeitos. Pela manhã, quando o velho pai se levantava e olhava o trabalho, dizia satisfeito:
Nada mau. Ainda vou fazer alguma coisa muito bonita disto aqui.
Em determinado país europeu existe uma maternidade com uma ala especial para mães solteiras. Todas as vezes que ali nasce um bebê de uma dessas moças, chega um grande ramalhete de flores.
Com ele, vem somente uma mensagem: De alguém que compreende.
Durante anos, centenas de moças, se sentindo abandonadas e desesperadamente sós, têm encontrado esperança, alento para uma nova vida, simplesmente por esse ato de solicitude de uma criatura anônima, jamais identificada.
A dádiva secreta nem precisa ser muito cara ou requerer muito tempo.
Exige apenas percepção aguda e um coração que compreenda.
Um certo médico, sabendo que um dos seus pacientes precisava muito de um medicamento caro, acima de suas posses, arranjou para que uma firma atacadista de produtos farmacêuticos enviasse o remédio necessário com uma etiqueta de amostra colada no rótulo, enquanto ele mesmo, naturalmente, custeava tudo.
* * *
Essas criaturas que assim procedem entenderam muito bem o que nosso Mestre e Modelo, Jesus, ensinou: Não saiba a vossa mão esquerda o que dê a vossa mão direita...
Aprendamos com elas e usemos nossa criatividade para fazer o bem sem esperar nenhum olhar, nenhum reconhecimento, nenhuma gratidão...
Redação do Momento Espírita, com base no cap. Dez horas, do
livro Remotos cânticos de Belém, de Wallace Leal Rodrigues, ed. O
Clarim e no item 6, do cap. XIII, de O Evangelho segundo o
Espiritismo, de Allan Kardec, ed. FEB.
Em 27.12.2013.
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