Momento Espírita
Curitiba, 25 de Novembro de 2024
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ícone O gato e a meditação

Um grande mestre religioso, responsável por um dos mais importantes mosteiros de sua região, tinha um gato que era sua verdadeira paixão na vida. Assim, durante as aulas de meditação, mantinha o gato ao seu lado para desfrutar o máximo possível de sua companhia.

Certa manhã, o mestre – que já estava bastante idoso – apareceu morto. O discípulo mais graduado ocupou seu lugar.

Os monges começaram a pensar no que fariam com o gato. Então, numa homenagem à lembrança de seu antigo instrutor, o novo mestre decidiu permitir que o gato continuasse frequentando as aulas.

Alguns discípulos dos mosteiros vizinhos, que viajavam muito pela região, descobriram que, num dos mais afamados templos do local, um gato participava das meditações. A história começou a correr.

Muitos anos se passaram. O gato morreu, mas os alunos do mosteiro estavam tão acostumados com aquela presença que arranjaram outro gato.

Enquanto isso, os outros templos começaram a introduzir gatos em suas meditações: acreditavam que o gato era o verdadeiro responsável pela fama e qualidade do ensino daquele mestre que já havia partido, e esqueciam-se de que o antigo mestre era um excelente instrutor.

Uma geração se passou. E começaram a surgir tratados técnicos sobre a importância do gato nas meditações propostas por aquela doutrina.

Um professor universitário desenvolveu a tese - aceita pela comunidade acadêmica – de que o felino tinha a capacidade de aumentar a concentração humana e eliminar as energias negativas.

E assim, durante um século, o gato foi considerado parte essencial no estudo daqueles princípios religiosos naquela região.

Até que apareceu um mestre que tinha alergia a pelos de animais domésticos e resolveu tirar o gato de suas práticas diárias com os alunos.

Houve uma grande reação negativa, mas o mestre insistiu na decisão. Como era um excelente instrutor, os alunos continuaram com o mesmo rendimento escolar, apesar da ausência do gato.

Pouco a pouco, os mosteiros – sempre em busca de ideias novas, e já cansados de alimentar tantos gatos – foram retirando os animais das aulas.

Em vinte anos, surgiram novas teses revolucionárias com títulos convincentes como: A importância da meditação sem o gato.

Mais um século se passou, e o gato saiu por completo do ritual de meditação naquela região. Mas, foram precisos duzentos anos para que tudo voltasse ao normal, desde que nunca alguém havia se perguntado, durante todo esse tempo, o porquê do gato estar ali.

Um escritor, que depois de séculos tomou conhecimento dessa história, deixou registrado em seu diário a seguinte observação:

E quantos de nós, em nossas vidas, ousam perguntar: por que tenho de agir desta forma?

Até que ponto, naquilo que fazemos, estamos usando coisas ou ações inúteis, que não temos a coragem de eliminar ou questionar, porque nos disseram que essas coisas ou ações eram importantes para que tudo funcionasse bem?

*   *   *

Há muito a refletir com esta narrativa.

Lembremos de nossas manias, rituais, de nossas crenças arraigadas que nunca foram por nós questionadas, e pensemos se não são como o gato da história.

O homem novo precisa rever tudo aquilo em que acredita, e permitir que a razão lhe ilumine os passos, deixando as sombras da ignorância para trás.

 

Redação do Momento Espírita, com base no cap. A importância
do gato na meditação, do livro Histórias para pais, filhos e netos, de
Paulo Coelho, ed. Globo.
Em 7.12.2013.

 

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