Quando o sofrimento chega, fustigando a alma; quando a dor se apresenta como tempestade impiedosa, destruindo sonhos e planos, normalmente reagimos muito mal.
Deixamos que a revolta nos abrace e externamos em palavras e atos o que nos vai n´alma por ver destroçados nossos sonhos.
Alguns de nós descambamos para o desespero insano. Deixamos de viver, abandonamos emprego, amigos... Isolamo-nos em nós mesmos, seguros de que não há, no mundo, sofrimento que se equipare ao que nos dilacera a alma.
No entanto, para algumas pessoas, o sofrimento age de forma diversa. Eles buscam soluções, não se permitindo considerar vencidos, enquanto não forem esgotadas todas as possibilidades.
Seja o problema a enfermidade, o abandono, o desemprego, eles prosseguem em frente.
E, além de não se entregarem ao desespero, encontram forças para auxiliar outros que descobrem em igual sofrimento.
Na sua dor, tornam-se mais sensíveis às dores alheias, aguçam os sentimentos da alma e ouvem os soluços de quem padece tanto ou mais que eles próprios.
Assim foi com o casal Beira, cujo filho, aos dezessete meses, foi diagnosticado com um tumor cerebral. Dali em diante foram cirurgias e quimioterapia se sucedendo.
Aos dez anos, Francesco passou a andar em cadeira de rodas, perdeu a fala e precisou de uma traqueostomia para respirar.
Os dias, as semanas e os meses se sucediam entre idas ao hospital e alguns retornos para casa.
Então os pais decidiram mantê-lo em casa, montando ali todo o aparato de uma Unidade de Terapia Intensiva – UTI. Desejavam que ele tivesse paz.
Francesco foi envolvido pelo amor da família: as duas irmãs, o pai, a mãe.
Partiu tranquilo, num domingo, enquanto seu pai e uma das irmãs seguravam cada uma das suas mãos. Os batimentos cardíacos começaram a cair lentamente, até cessarem.
Algumas lágrimas rolaram dos olhos do pai mas, olhando a serenidade do rosto do filho, orou.
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A morte é sempre representação de uma separação, por breve que seja. Por isso mesmo, dolorida.
Dizem os médicos que mais difícil do que a de um adulto é aceitar a morte de uma criança. Ela é promessa e a perspectiva é que cresça, se desenvolva, se torne jovem e adulta.
Pois os pais de Francesco, após a sua morte e em sua homenagem, transformaram sua dor em benefício.
Associando-se a uma ONG, que atende crianças com câncer, eles optaram por fundar em São Paulo um Hospice, um abrigo pediátrico de cuidados paliativos.
Será o primeiro do país, nessa proposta da área médica de atenuar o sofrimento e aumentar a qualidade de vida de pacientes desenganados.
Boa parte dos recursos para essa obra foram bancados pelos pais de Francesco que doaram, após a morte dele, os recursos da poupança do filho.
Conforme falou o pai, foi um jeito de dar sentido à experiência vivida.
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Sim, há muitas formas de sofrer. Bem sofrer é passar pela experiência dolorosa e ainda encontrar forças para minorar alheias dores.
Pensemos nisso.
Redação do Momento Espírita, com base na reportagem A mais difícil
decisão, de Maria Laura Neves, da revista Cláudia, ed. Abril.
Em 3.4.2013.