A estrada era longa. Uma simples reta. Lá estava a jovem aprendendo a dirigir, ao lado do pai de olhar sério e concentrado.
Na sua mocidade, ela sonhava com a carteira de habilitação, que lhe possibilitaria utilizar o carro do pai nos finais de semana.
De repente, a imagem que projetava se desfez. Uma curva apareceu do nada.
Apavorada, em vez de pisar na embreagem, apertou o freio.
O carro saiu derrapando e o motor morreu. Com um solavanco, o veículo parou.
No primeiro momento, ficaram mudos, ela e o pai. Uma nuvem de poeira entrou pela janela e Marina ficou vermelha, o coração aos sobressaltos, esperando pela reprimenda furiosa.
Em vez disso, o pai deu um suspiro profundo e sugeriu que ela ligasse de novo o motor.
Isso aconteceu há trinta anos. Hoje, Marina é mãe de três adolescentes. Enfrentando os problemas próprios desta fase de transição, se indaga o que é que fazia seu pai manter a calma, mesmo com os cinco filhos a rodeá-lo com questões e crises.
No dia em que saiu com o filho maior para lhe dar sua primeira aula de direção, mais do que nunca ela se recordou da paciência de seu pai.
O jovem entrou no carro, ligou o motor barulhento, ajeitou o espelho retrovisor, verificou seu penteado, ligou o rádio em sua estação favorita. Finalmente, engatou a marcha à ré e devagar, saiu da garagem.
Passou raspando pela caixa do correio e Marina gritou. Ele acelerou. Ela ficou tensa.
Buscando se expressar com calma, ela disse: Diminua nesta curva. Depois gritou outra vez.
No seu nervosismo, apertou um freio imaginário.
Ele ligou a seta, sinalizando para a direita, mas entrou à esquerda... pela contramão.
Marina falou com rispidez e um silêncio tumular se seguiu.
A mãe olhou para o filho. Ele segurava o volante com força e ia em frente.
Viu, mãe? Você só tem de me dar um pouco mais de tempo. É fácil e divertido dirigir.
A estrada agora era uma extensa reta. O filho sorriu e o seu rosto se iluminou ante a expectativa das novidades que se apresentariam.
Ela se sentiu envolver por uma onda de lembranças e recordou, tornando a se ver como a menina, no banco do motorista, trinta anos atrás.
Uma ideia brilhou dentro dela. Trinta anos antes, enquanto a poeira entrava no carro quase a sufocá-los, será que seu pai não se sentiu também transportado de volta aos dias de sua juventude?
Ela relaxou. Contemplou o pôr do sol, acariciou os cabelos do filho, radiante, vitorioso, e respirou fundo.
A terra brilhava ao entardecer do outono e a brisa da noite lhe trazia os aromas doces do campo.
* * *
Todos passamos pela adolescência e todos necessitamos de aprendizagem.
Para cada um de nós houve a primeira vez na direção do automóvel, a ansiedade pelo primeiro dia no emprego, a primeira conversa com uma garota, o primeiro abraço do namorado.
Quando orientamos hoje nossos adolescentes, nesta fase de ansiedade e de delícias, de descobertas e surpresas, busquemos viajar no tempo.
Recordemo-nos dos anos passados e então entenderemos um tanto mais os nossos filhos.
A calma e a paciência nos envolverão e o relacionamento com eles nesta fase da vida será, com certeza, mais ameno.
Redação do Momento Espírita, com base no cap.
Dose dupla na estrada, de Seleções Reader´s Digest, de 12/1998.
Em 2.1.2013.