Foi então que apareceu a raposa.
“Bom dia.” – Disse a raposa.
“Bom dia.” – Respondeu o principezinho com delicadeza. Mas, ao voltar-se não viu ninguém.
“Estou aqui.” – Disse a voz – “Debaixo da macieira…”
“Quem és tu?” – Disse o principezinho. – “És bem bonita…”.
“Sou uma raposa.”
“Anda, vem brincar comigo.” – Propôs-lhe o principezinho. –“Estou tão triste…”
“Não posso brincar contigo.” – Disse a raposa. – “Ainda ninguém me cativou.”
“Ah! Perdão.” – Disse o principezinho.
Mas, depois de ter refletido, acrescentou: – “Que significa cativar”?
“Tu não deves ser daqui.” – Disse a raposa. – “Que procuras?”
“Procuro os homens.” – Disse o principezinho. – “Que significa cativar”?
“Os homens” – disse a raposa – “têm espingardas e caçam. É uma maçada! Também criam galinhas. É o único interesse que lhes acho. Andas à procura de galinhas?”
“Não.” – Disse o principezinho. – “Ando à procura de amigos. Que significa cativar”?
“É uma coisa de que toda a gente se esqueceu.” – Disse a raposa. – “Significa criar laços…”
“Criar laços?”
“Isso mesmo.” – Disse a raposa. – “Para mim, não passas, por enquanto, de um rapazinho em tudo igual a cem mil rapazinhos. E eu não preciso de ti. E tu não precisas de mim. Para ti, não passo de uma raposa igual a cem mil raposas.
Mas, se me cativares, precisaremos um do outro. Serás para mim único no mundo. Serei única no mundo para ti…”
-“Começo a compreender.” – Disse o principezinho. – “Existe uma flor... creio que ela me cativou.”
“É possível.” – Disse a raposa. – “Vê-se de tudo à superfície da Terra…”
* * *
Saint-Exupéry, em sua obra-prima, O pequeno príncipe, apresenta questões existenciais de fundamental importância.
Uma delas diz respeito ao cativar, ao criar laços.
Numa época em que muitas de nossas relações ainda não saíram de uma superficialidade pálida e cômoda, faz bem poder pensar sobre o criar laços.
Criar laços é, antes de tudo, entregar-se a uma relação de coração aberto.
É também estar disposto a se doar ao outro, sem exigir nada em troca. A troca, numa relação, é consequência e combustível, mas jamais poderá ser condição.
Com o cativar vem a responsabilidade. Exupéry coloca também, na voz de sua raposa, que somos responsáveis por tudo aquilo que cativamos.
Em qualquer laço criado, a responsabilidade vem junto, colocando as partes numa posição de respeito e dependência de uma para com a outra.
Laços não são descartáveis. O amor não é descartável.
Somos responsáveis por quem cativamos, por quem depende de nosso amor na face da Terra. Não falamos de uma responsabilidade que prende e sufoca, mas a responsabilidade leve e doce, que só o amor promove.
Que busquemos, neste curto período de cada encarnação, criar laços profundos.
Os laços de amor levamos conosco, e nunca se perdem.
Cative e deixe-se cativar.
Pense nisso.
Redação do Momento Espírita, com base no livro O pequeno
príncipe, de Antoine Saint-Exupéry, ed. Agir.
Em 30.11.2012.