Se a um jovem perguntarmos o que lhe representa a morte, ele responderá: A morte é a ceifeira dos sonhos.
É uma megera que se compraz em destruir o que de mais idealista se projeta.
Teima em não obedecer regras pois arrebata filhos antes dos seus pais, crianças antes dos idosos.
Abraça os que apenas desabrocham para a vida; envolve em seu manto negro adolescentes apaixonados, jovens estudantes.
Destrói a ventura de um casal, atingindo um dos cônjuges, deixando o outro mergulhado em sombras de saudade e dor.
Agrada-lhe a semeadura da desgraça e cascatas de lágrimas.
A um dia de sol, em que a criançada grita e brinca, entre os jardins, o bosque e o lago, oferece a sua presença e transforma risos em pranto, cantos em lamentos.
Aproveita-se de qualquer descuido para roubar o ente querido. Basta uma leve distração e a criança é arrebatada. Um senão qualquer e a vida amada se vai.
No entanto, se indagarmos a alguém que padece sobre um leito, dia após dia; alguém que já não encontra remédios que lhe amenizem as dores; alguém a quem o bendito repouso do sono não chega porque a enfermidade dolorosa não o permite;
se questionarmos alguém a quem os meses se multiplicaram em acentuados anos, secando-lhe o viço e a mobilidade; alguém que viu seus amores partirem um a um, seguidos pelos colegas e amigos; alguém que vive só, sem ter quem o visite, amenizando-lhe a carência afetiva e depende de mãos alheias para o asseio, o alimento, os mínimos movimentos, esse alguém nos dará uma visão diversa da morte.
Ele dirá que ela é a libertadora, que o corpo lhe pesa em demasia, que não suporta mais as dores físicas ou a solidão, que deseja o reencontro com os que se foram.
Então, para esse, a morte vem com outras vestes. Não é a lúgubre presença destruidora, mas aquela que ele aguarda o abrace suavemente e o conduza ao outro mundo.
* * *
De um modo geral, consideramos a morte sempre como indesejada. Os que temos nossos amores envoltos em enfermidades, não nos cansamos de estabelecer novas trincheiras de combate, a fim de lhes devolver a saúde.
Todos os que amamos se fazem preciosas presenças e, por isso, não desejamos que partam.
Os pais esperam seguir antes dos filhos, que não almejam morram seus amigos, conhecidos, colegas.
No entanto, a morte é inexorável para todos. E, como disse Jesus, ninguém sabe o dia, nem a hora, senão o Pai que está nos céus.
Importante, dessa forma, que nos conscientizemos que estamos no mundo de passagem. Por mais se alonguem os anos, por mais a ciência progrida e estabeleça parâmetros mais dilatados de longevidade humana, um dia, a morte chegará.
Por isso, guardemos a sabedoria de viver intensamente cada dia, de saborear cada momento com os pais, os filhos, o cônjuge.
Dediquemos tempo aos nossos amigos, permitamo-nos parar para ouvir o colega, o vizinho.
Tudo para que, quando a morte nos arrebate, os que ficarem possam ter doces lembranças da nossa presença a lhes luarizar a saudade dos dias.
E, se nossos amores antes forem, possamos guardar a certeza de que não desperdiçamos nenhum momento ao seu lado.
Depois, é só aguardar o reencontro, um dia, na Espiritualidade.
Redação do Momento Espírita.
Em 1.11.2012.