Tu tens um medo: acabar.
Não vês que acabas todo dia?
Que morres no amor; na tristeza;
Na dúvida; no desejo.
Que te renovas todo dia
No amor; na tristeza;
Na dúvida; no desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno.
* * *
Cecília Meirelles nos faz pensar sobre esse medo imenso que ainda nos assusta: desaparecer, acabar, morrer.
Alguns nem falam sobre o tema, por insegurança psicológica, como se falar ou não sobre esse fato natural, evitasse alguma coisa.
Lidamos com a morte diariamente, querendo ou não refletir sobre ela.
Alguns pensadores chegam a dizer que morremos um pouco todos os dias, ou ainda, que desde o instante de nosso nascimento já estamos caminhando rumo ao fim certo.
Parecem constatações um tanto drásticas, se nos ativermos apenas à letra dura e objetiva.
Quando, enfim, entendermos que a morte como destruição, como fim definitivo, não existe, quem sabe esse temor comece a ceder um pouco.
A morte precisa ser entendida como renovação, como final de uma etapa e início de outra.
Lidamos com isso na vida hodierna, convivendo com o fim de tantas coisas, de tantos sentimentos, de tantas fases da existência, e logo depois, o início, a renovação, o renascer.
O nascer, morrer e renascer faz parte da natureza, e já temos maturidade suficiente para começar a conviver com esses fenômenos com maior naturalidade.
Em cada novo existir, embora com outro corpo, outra realidade, outra persona, somos o mesmo: o mesmo Espírito, a mesma essência, que retorna para continuar, seguir adiante.
Nascemos e renascemos para crescer, para aprender a amar e pensar, até que chegue o dia de não mais termos medo de morrer, e assim nos compreendermos como eternos.
O eterno que não tem fim, e que vive como quem é imortal.
Não basta saber-se eterno. Faz-se necessário viver como tal.
Viver no mundo sem ser do mundo.
* * *
Que possamos ter essa certeza no coração, e que o medo vá embora um pouquinho a cada amanhecer, pois a manhã é a morte da noite.
Plantemos, sabendo da colheita certa mais à frente.
Colhamos, olhando para trás e aprendendo com o passado educador, que já não é mais, mas que formou o que hoje somos.
Tu tens um medo, escreve a poetisa inspirada: acabar.
Que esse medo possa desaparecer de nossa vida aos poucos, tendo a certeza de que fazemos parte de um universo com leis perfeitas, criado e coordenado por um Pai amoroso, que deu a Seus filhos o presente da Imortalidade.
Que nos renovemos todos os dias, que sejamos os mesmos, mas que as atitudes sejam outras, mais felizes, mais maduras.
Amemos mais e nos eternizemos no amor.
Redação do Momento Espírita com citação do poema Tu tens
um medo, de Cecília Meirelles, do livro Antologia poética, ed. Record.
Em 29.10.2012.