Nos tempos antigos, havia um grande explicador dos textos evangélicos.
Tratava-se de um sábio sempre disposto ao serviço da compreensão e da bondade.
Talvez por isso, tenha organizado uma escola em que ensinava com indiscutível sabedoria.
Certa feita, prestou especial atenção em um aprendiz que se lamuriava de maus tratos recebidos na via pública.
Convidou o jovem para saírem pelas ruas de Jerusalém, implorando esmola para determinados serviços do templo.
A maioria dos transeuntes dava ou negava, com indiferença.
Contudo, em uma esquina movimentada, um homem vigoroso respondeu-lhes a rogativa com aspereza e zombaria.
O mestre tomou o aprendiz pela mão e ambos o seguiram, cuidadosos.
Não andaram muito tempo e o viram cair ao solo, ralado de dor violenta, provocando o socorro geral.
Em breve, verificaram que o irmão irritado sofria de cólicas mortais.
Demandaram adiante, quando foram defrontados por outro cavalheiro, que sequer se dignou a lhes responder à súplica.
Ele se limitou a lançar, na direção dos pedintes, um olhar rancoroso e duro.
Orientador e tutelado lhe acompanharam os passos.
Quando o homem alcançou a própria casa, nela havia um compacto grupo de pessoas chorosas.
Ele, aparentemente insensível, prorrompeu em prantos, pois tinha no lar uma filha morta.
Mestre e discípulo prosseguiram esmolando na via pública.
Logo receberam fortes palavrões de um rapaz a quem tinham se dirigido.
Retraíram-se ante tanta agressividade.
Mas logo se conscientizaram de que era um pobre louco.
Em seguida, ouviram atrevidas frases de um velho que lhes prometia pedradas e prisão.
Decorridas algumas horas, souberam que o infortunado era um negociante falido.
De senhor, ele se convertera em escravo, o que lhe amargurara a existência.
Então, o respeitável instrutor passou a comentar com seu aluno a lição do dia.
Falou-lhe da necessidade do entendimento por sagrado imperativo da vida.
Salientou a importância de não se queixar daqueles que exibem expressões de revolta ou desespero porque, na maioria dos casos, quem demonstra mau humor permanece em estrada mais escura e espinhosa do que a nossa.
* * *
Quando encontrarmos os portadores da aflição, convém ter piedade.
Se possível, devemos auxiliá-los na conquista da paz íntima.
O touro retém os chifres por não haver atingido, ainda, o dom das asas.
As pessoas não são complicadas e tristes porque querem.
Elas apenas não conseguem ser diferentes, em seu atual momento.
Sem refletir, reclamamos da incompreensão alheia.
Mas não investimos tempo para prestar atenção nas tragédias que permeiam a vida do próximo.
Antes de qualquer julgamento, impõe-se um esforço para entender o semelhante.
Pensemos nisso.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 35 do livro
Jesus no lar, pelo Espírito Neio Lúcio, psicografia de Francisco
Cândido Xavier, ed. Feb.
Em 3.8.2012