Momento Espírita
Curitiba, 23 de Novembro de 2024
busca   
no título  |  no texto   
ícone Ser filha

Qual é seu sonho?

A pergunta surpreendeu a jornalista chinesa Xinran, naquele evento, na Austrália. Emigrada para a Inglaterra no ano de 1997, levou consigo uma bagagem emocional de quarenta difíceis anos na China.

Ela viveu os dias da revolução cultural em seu país. Foi jornalista em sua terra, onde a censura ditava as regras do que poderia ou não ser dito.

Mas ela se serviu das ondas do rádio para consolar as criaturas. Narrou as histórias mais tristes da sofrida mulher chinesa.

Em Londres, fundou uma ONG que busca auxiliar órfãos chineses e estreitar a compreensão entre o Ocidente e a China.

Assim, sua resposta foi: Ser filha!

Mas, lhe disseram, você nasceu, então deve ser filha de alguém!

Sim, Xinran tinha e tem uma mãe biológica. No entanto, nasceu no seio de uma cultura tradicional, viveu levantes políticos brutais em criança.

Sua mãe e ela viveram uma época em que não se consideravam importantes os laços afetivos familiares.

Como resultado, não houve uma ocasião sequer em que sua mãe lhe dissesse que a amava ou que a tenha abraçado.

Naquele dia, ao chegar ao estacionamento, junto ao seu carro havia uma fila de mulheres de cabelos prateados, em pé.

Estavam ali para lhe dar um abraço materno. Uma a uma. Agradecida embora, Xinran continuou a sentir o vazio de nunca ter sido abraçada por sua própria mãe.

Voltou à China e, em horas calmas, extravasou o conteúdo de sua alma.

Como desejaria ser afagada. Ela era adulta, uma mulher realizada, mãe de um filho. Entretanto, ainda desejava ser filha.

Apesar de tudo, nada aconteceu. Na rigidez com que fora educada, sua mãe não se comoveu. Não disse uma palavra.

E Xinran retornou para a Inglaterra, ainda carente de um abraço de mãe. Ainda desejosa de ser filha.

*   *   *

Ser filha é abrir os olhos no berço e descobrir, debruçada sobre seu corpo tão pequeno e indefeso, o rosto sorridente de uma mulher. Uma mãe.

Uma mãe que alimenta, aconchega, aquece. Uma mãe que é segurança.

Uma mãe que acompanha a infância, socorrendo todos os machucados, de joelho ralado a dedo preso na porta e hematomas na cabeça.

Uma mãe que acompanha a adolescência, oferecendo o regaço para o choro da primeira desilusão de amor, dos pequenos fracassos na escola, do abandono dos amigos.

Ser filha é ter um anjo de guarda ao seu lado, na carne, sempre presente, sempre vigilante.

É ter um colo para se acolher, em dias de invernia emocional. Um ombro para chorar todas as dores da alma.

É poder dispor de dois braços ternos para abraços sempre precisos, oportunos e estimuladores.

Ser filha! Agradeçamos a honra de termos mães. Agradeçamos a Deus esse tesouro a quem Ele nos confiou, neste temporário exílio terreno, distante das estrelas, longe da pátria verdadeira.

 

Redação do Momento Espírita, com base no prefácio, do
livro
Mensagem de uma mãe chinesa desconhecida, de
Xinran, ed. Companhia das letras.

Em 08.05.2012.

© Copyright - Momento Espírita - 2024 - Todos os direitos reservados - No ar desde 28/03/1998