Momento Espírita
Curitiba, 22 de Novembro de 2024
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Quem está habituado a enfrentar águas traiçoeiras sabe o quanto é importante o brilho do farol para apontar o rumo seguro.

Sherry Hogan conta que o seu farol era o lenço de seu pai. Ele não dava importância às iniciais bordadas ou aos tecidos caros. Gostava mesmo de lenços de algodão branco simples.

Sempre à mão, o lenço de seu pai servia para limpar os desastres ocasionados pelos picolés derretidos da criançada, no banco traseiro do carro.

Serviu para enfaixar o ferimento do gatinho favorito de Sherry, depois de um desagradável encontro do bichano com o cachorro do vizinho.

Na adolescência, mais de uma vez o lenço serviu para secar as lágrimas de Sherry. Quando, aos vinte anos, ela foi se despedir do pai, antes de partir para a Europa, começou a chorar, tomada de pânico.

O quadrado de algodão tão familiar serviu para lhe secar as lágrimas, enquanto a voz grave do pai a incentivava a confiar e partir.

Três anos depois, em seu retorno, a primeira visão que teve ao chegar ao aeroporto, foi do lenço branco do pai acenando para ela acima das cabeças da multidão.

No Natal de 1997, seu pai estava muito doente. O câncer lhe tomara quase todo o corpo. Sabendo que ele partiria a qualquer momento, Sherry foi comprar lenços lindos, de linho, bordados. Naturalmente, também comprou uns de algodão, por preço bem popular.

Ele abriu cada um dos pacotes. Colocou de lado os elegantes lenços bordados, escolheu um baratinho e falou: Só usarei os caros em ocasiões muito importantes.

A filha abraçou o pai, como a se despedir: Você sempre esteve presente quando precisei, pai. - Foi o que falou, emocionada.

Ele respondeu: E sempre vou estar. Só que de um jeito diferente. Confie em mim.

Dez dias depois ele partiu. Sherry passou a sentir muito a falta dele.

Dois meses depois, ela se sentia desanimada, triste. Sabia que ele estava em um lugar melhor, mas precisava do abraço dele.

Fale com ele, disse-lhe sua irmã.

Chorosa, saudosa, ela começou a falar, andando pela sala: Ah, papai. Sei que você está em um lugar melhor. Acredito nisso especialmente graças a você. Mas sinto tanto sua falta. Eu só queria saber se você está bem.

O silêncio foi a resposta. Ela começou a soluçar alto. Podia sentir a tristeza lhe percorrendo o corpo todo.

Foi então que ela viu, pelo canto do olho: um grande quadrado branco debaixo da cadeira de seu pai.

Era um dos lenços novos bordados. Como ele tinha ido parar ali? Ela limpava a sala todas as manhãs. De onde ele poderia ter saído?

Palavras de seu pai lhe vieram à mente: Só usarei os lenços caros em ocasiões muito importantes.

Sherry entendeu. Seu pai lhe mandara a resposta: Querida, estou bem. Cheguei em casa.

*   *   *

Os amores que se vão continuam a nos amar, não importando o tempo.

Zelosos, prosseguem velando por nós e, de forma sutil, se fazem presentes em nossas vidas.

Pelos fios invisíveis da oração, é possível sentir-lhes o carinho e a mansidão da voz dizendo que chegaram bem, que nos aguardarão no tempo, pacientemente, para o delicado reencontro.

Redação do Momento Espírita, com base
no  texto
Uma questão de confiança, de
Seleções Reader´s Digest, de
 setembro de 2000.

Em 27.9.2021.

 

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