Caminheiro, que passas pela estrada,
Seguindo pelo rumo do sertão,
Quando vires a cruz abandonada,
Deixa-a dormir em paz na solidão.
É de um escravo humilde sepultura,
Foi-lhe a vida o gozar de insônia atroz.
Deixa-o dormir no leito de verdura,
Que o Senhor dentre a selva lhe compôs.
Quando, à noite, o silêncio habita as matas,
A sepultura fala a sós com Deus.
Prende-se a voz na boca das cascatas,
E as asas de ouro aos astros lá nos céus.
Caminheiro! Do escravo desgraçado
O sono agora mesmo começou!
Não lhe toques no leito de noivado,
Há pouco a liberdade o desposou.
Estes são versos da autoria de Castro Alves, o poeta dos escravos.
É um lamento de dor pela situação do negro, escravo de uma civilização que se denominava cristã, mas não se pejava em escravizar seus irmãos, sem piedade alguma.
Retirados à força do seu país natal, alguns deles chefes tribais, tinham desprezados todos os seus direitos.
Direito de ser tratado como ser humano, direito ao descanso, à família, à expressão do seu culto religioso, à dignidade.
O desejo de ser livre, de poder se expressar em seu próprio idioma, de cultuar seus deuses, tudo lhes era vedado.
A rebeldia era punida com castigos horrendos e a morte.
É a morte que, justamente, o poeta dos escravos exalta como a libertadora.
E em seus versos revela a verdade inconteste da Imortalidade.
Extinto o corpo, a alma estava liberta para andar pelos campos espirituais.
Como ser espiritual, imortal, poderia retornar aos ares do seu país natal, poderia reencontrar os amores que houvessem partido antes dele.
* * *
Embora muitos haja na Terra que, ainda, insistem em afirmar que nada existe para além da vida física, somos imortais.
Ninguém morre. Finda-se o corpo, mas a essência permanece.
Liberta do corpo, a alma retorna ao grande lar. Busca os amores, recompõe-se das lutas travadas durante a vida terrena e prossegue na conquista do progresso.
É assim que os que sofreram muito sobre a Terra encontram o restabelecimento das forças e as recompensas pelo bem sofrer.
A imortalidade é a grande porta que se abre para o reencontro dos que se amam e daqueles que ainda necessitam exercitar o amor uns pelos outros.
É o repouso das lutas, é o reabastecer de energias para novas etapas de progresso do ser que nunca morre e cujo destino final é a perfeição.
Redação do Momento Espírita, com versos da poesia
A cruz da estrada, de autoria de Castro Alves.
Disponível no CD Momento Espírita, v. 20, ed. FEP.
Em 28.7.2015.