Momento Espírita
Curitiba, 22 de Novembro de 2024
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ícone Imortalidade em versos

Caminheiro, que passas pela estrada,

Seguindo pelo rumo do sertão,

Quando vires a cruz abandonada,

Deixa-a dormir em paz na solidão.

 

É de um escravo humilde sepultura,

Foi-lhe a  vida o gozar de insônia atroz.

Deixa-o dormir no leito de verdura,

Que o Senhor dentre a selva lhe compôs.

 

Quando, à noite, o silêncio habita as matas,

A sepultura fala a sós com Deus.

Prende-se a voz na boca das cascatas,

E as asas de ouro aos astros lá nos céus.

 

Caminheiro! Do escravo desgraçado

O sono agora mesmo começou!

Não lhe toques no leito de noivado,

Há pouco a liberdade o desposou.

 

Estes são versos da autoria de Castro Alves, o poeta dos escravos.

É um lamento de dor pela situação do negro, escravo de uma civilização que se denominava cristã, mas não se pejava em escravizar seus irmãos, sem piedade alguma.

Retirados à força do seu país natal, alguns deles chefes tribais, tinham desprezados todos os seus direitos.

Direito de ser tratado como ser humano, direito ao descanso, à família, à expressão do seu culto religioso, à dignidade.

O desejo de ser livre, de poder se expressar em seu próprio idioma, de cultuar seus deuses, tudo lhes era vedado.

A rebeldia era punida com castigos horrendos e a morte.

É a morte que, justamente, o poeta dos escravos exalta como a libertadora.

E em seus versos revela a verdade inconteste da Imortalidade.

Extinto o corpo, a alma estava liberta para andar pelos campos espirituais.

Como ser espiritual, imortal, poderia retornar aos ares do seu país natal, poderia reencontrar os amores que houvessem partido antes dele.

*   *   *

Embora muitos haja na Terra que, ainda, insistem em afirmar que nada existe para além da vida física, somos imortais.

Ninguém morre. Finda-se o corpo, mas a essência permanece.

Liberta do corpo, a alma retorna ao grande lar. Busca os amores, recompõe-se das lutas travadas durante a vida terrena e prossegue na conquista do progresso.

É assim que os que sofreram muito sobre a Terra encontram o restabelecimento das forças e as recompensas pelo bem sofrer.

A imortalidade é a grande porta que se abre para o reencontro dos que se amam e daqueles que ainda necessitam exercitar o amor uns pelos outros.

É o repouso das lutas, é o reabastecer de energias para novas etapas de progresso do ser que nunca morre e cujo destino final é a perfeição.

 

Redação do Momento Espírita, com versos da poesia
 
A cruz da estrada, de autoria de Castro Alves.
Disponível no CD Momento Espírita, v. 20, ed. FEP.
Em 28.7.2015.

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