O menino Lucas nutria um grande amor por Rúbria, sua companheira de brincadeiras.
Como cresceram juntos, Lucas acompanhou desde a meninice o precário estado de saúde da amiga.
Rúbria possuía a doença branca e pouco se sabia na época sobre essa doença.
A enfermidade por vezes cedia, permitindo bem-estar a Rúbria por algum tempo, mas depois voltava, cruel.
Nas crises, ela tinha terrível falta de ar e hemorragias pelo corpo. Muitas vezes Lucas a viu à beira da morte.
No entanto, houve um tempo em que a doença cedeu por vários anos. Durante aquele período o amor que Lucas sentia por Rúbria amadureceu.
Na época, ele tinha aproximadamente dezesseis e ela catorze anos, e todos os planos da vida de Lucas incluíam Rúbria.
Lucas interessou-se pela medicina desde muito jovem e, assim que estivesse pronto, iria para a Escola de Medicina de Alexandria.
Mas, infelizmente, a jovem voltou a adoecer e, depois de alguns meses de sofrimento físico, ela morreu.
Naquele momento, toda alegria e serenidade, toda paz que Lucas sempre cultivara se converteram em uma revolta sem tamanho, tristeza e dor indefiníveis.
Lucas sempre acreditou na existência de Deus mas, com a morte de Rúbria passou a sentir ódio de Deus.
Aquilo só podia ser uma maldição. Por que Deus levou justamente a sua amada, e com ela todos os seus planos de felicidade?
Como pôde Deus privar o mundo da presença de Rúbria?
Agora ela estava morta, perdida por toda a eternidade.
Lucas tornou-se inimigo de Deus e prometeu vingar-se, tamanha sua revolta, seu desespero, sua tristeza.
Decidiu medir forças com Deus. Toda vez que Deus tentasse levar alguém pela doença, ele iria curar esse alguém para que Deus não fosse vitorioso.
Mas Lucas tinha um coração amoroso, só estava ferido.
E, apesar de sua briga com Deus, devotou toda sua vida no auxílio aos desafortunados.
Mesmo tendo recebido muitas ofertas para trabalhar em Roma, a capital do Império, ele preferia trabalhar como médico nos navios, pois sabia que deveria estar onde precisassem dele.
Mesmo magoado com Deus, Lucas vivia as Leis Divinas. E, por sua conduta e amor ao próximo, acabou encontrando Paulo de Tarso e, através dele, o consolo de que tanto necessitava.
A Boa Nova do Cristo acalentou o coração de Lucas, pois lhe mostrou a imortalidade da alma, a bondade e a justiça Divinas, a individualidade da alma, a possibilidade do reencontro com a mulher amada.
Quando o Evangelho do Cristo abriu as portas do infinito ao jovem médico e lhe mostrou um Deus justo e bom, seu coração encontrou a paz que havia perdido com a morte da sua amada.
E Lucas passou a ser também médico de almas, aliviando corações dilacerados pela dor da separação, com o bálsamo do Evangelho de Jesus.
Por sugestão de Paulo, o grande Apóstolo dos Gentios, Lucas resolveu ser um divulgador da Boa Nova. Foi ele que escreveu o terceiro Evangelho e os Atos dos Apóstolos.
* * *
No início, os seguidores do Cristo eram chamados viajores, peregrinos, caminheiros. A comunidade deles se chamava Caminho.
Por essa razão eram chamados homens do Caminho.
Foi Lucas quem sugeriu que os discípulos do Cristo fossem chamados cristãos.
Lucas, apesar da dor causada pela morte da mulher amada, não se entregou ao desânimo nem à depressão, mas foi à luta.
E foi com as mãos no trabalho que um dia ele encontrou o grande tesouro da sua vida: a certeza da imortalidade da alma.
Esta verdade que Jesus não só ensinou, mas voltou do túmulo para provar.
Redação do Momento Espírita, com base no livro Médico de homens e de almas, de Taylor Caldwell, ed. Record e no cap. IV, pt. 2, do livro Paulo e Estêvão, pelo Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. Feb.Em 14.10.2011.