Conta-se que Victor Hugo, o admirável escritor francês, quando no exílio, tinha por hábito, ao cair da tarde, chegar a uma parte em que havia uma colina próxima ao mar, e ali sentava-se, mergulhando em reflexões demoradas.
Enquanto o grande gênio da língua neolatina meditava, crianças brincavam à sua volta.
Depois de haver reflexionado suficientemente, o gigante da pena erguia-se, dobrava-se, tomava de uma pedra e a atirava ao mar.
Tornara-se-lhe tão habitual este movimento que já o fazia por automatismo.
Certo dia, porém, uma das crianças, vendo o grande escritor repetir o gesto de atirar ao mar uma pedra, perguntou, com o olhar traquinas e o sorriso infantil:
Senhor Hugo, por que o senhor, depois de meditar tanto, toma de uma pedra e a joga no mar?
E o admirável exilado respondeu, com um toque de melancolia:
É que tenho muitos problemas e resolvi, diariamente, por meditar em um problema. Após equacioná-lo, atirá-lo ao mar do esquecimento.
* * *
Não permitamos que os problemas tomem conta de nossa vida e exauram todas as nossas energias.
É necessária a compreensão de que estamos no problema, mas não somos o problema. Somos a solução para ele.
Quando analisarmos cada um deles, devemos pensar: Aqui está o meu problema. Fora de mim.
Não somos este momento de aflição. Apenas transitamos por ele temporariamente.
Encaremos cada problema como um desafio, algo que veio para fazer-nos crescer, amadurecer. E não para nos destruir.
Isso permitirá que a vida o solucione com tranquilidade, sem desgastar-nos em demasia.
Contemos com ajuda externa. Não acreditemos que tenhamos que resolver tudo sempre sozinhos.
Há tanta gente disposta a nos ajudar, no mundo material, e no mundo invisível, onde encontramos os amores do ontem e os protetores de nossa reencarnação.
Então, após resolver cada problema, atiremo-lo ao mar do esquecimento, não permitindo que ele permaneça em nossa casa mental.
Renovemo-nos diariamente, não permitindo que resquícios de crises e dores amarguem a alma, e se transformem em prisão indesejada.
Não nos assustemos com a palavra problema. Se ela nos parecer assustadora, troquemo-la por outra, como desafio ou obstáculo.
Obstáculos existem para serem observados, compreendidos e transpostos.
Saímos mais fortes de cada um deles, se desejarmos, em vez de mais fracos e abalados.
Libertemo-nos desse negativismo que, por vezes, estraga nosso dia, quando a lente do pessimismo nubla nossa vista imperceptivelmente.
Libertemo-nos do cinza, do escuro dos pensamentos que tanto nos aborrecem a alma.
Nascemos para ser livres, então, libertemo-nos.
Não somos nossos problemas. Apenas transitamos por eles temporariamente.
Pensemos nisso.