Aqueles eram dias de dificuldades intensas para Elisângela. Os dias se sucediam, trazendo problemas e desafios multiplicados.
Não raro, chegava ao lar com grande peso sobre os ombros e todas as preocupações tomando-lhe a casa mental.
Como se não bastasse, as saudades da genitora, que há pouco partira desta existência nos braços da morte, apertava-lhe o peito, quase a asfixiando.
Sentia-se como que abandonada e solitária para enfrentar tantas dificuldades. Mesmo aqueles a quem amava, o esposo, os filhos, pareciam não preencher o vazio que as saudades intensas da mãe querida lhe haviam deixado na alma.
Foi envolvida nesse clima que ela adentrou o lar, para a continuidade dos seus afazeres e o reencontro com os filhos, que a aguardavam, demandando os cuidados naturais.
Bastaram poucos minutos para que a filha mais velha, então com catorze anos, lhe percebesse a face entristecida e conseguisse ler em seus olhos as aflições que transbordavam do coração.
No mesmo instante, segurou a mãe pelas mãos e a levou até o sofá, oferecendo seu colo para que ela repousasse sua cabeça.
Venha, mãe, deite aqui no meu colo e chore. Eu sei que você está sofrendo muito. Como eu não posso fazer nada, ofereço meu colo para você poder aliviar seu coração.
Eu nem consigo imaginar - continuava a filha - o que seria da minha vida sem você. Sei que você sente muitas saudades da vovó. Mas eu estou aqui para acarinhá-la.
Assim, no colo da filha, Elisângela deixou as lágrimas correrem fartas sobre a face.
Agora, não eram só pelas dores da saudade, mas lágrimas de agradecimento e reconhecimento a Deus pela filha, um porto seguro na sua existência.
Lembrou da gravidez aos dezessete anos. O atual marido, também um adolescente à época. Não haviam programado aquela gravidez.
Em meio aos estudos escolares, sem nenhuma perspectiva de vida, o que fazer? Tudo eram dúvidas e incertezas.
Levar aquela gravidez a termo? Como manter, sustentar essa nova vida? Com que parâmetros educá-la?
Naquele mar de incertezas, mal podia ela imaginar que aquelas poucas células que habitavam a sua intimidade de mãe, lhe seriam o abrigo alguns anos depois. Sua filha, seu porto seguro.
* * *
Assim é a existência. Deus nos oferece os apoios, os sustentos e nos envia amparo de formas que nem imaginamos.
Cada filho que nos chega, programado ou não, desejado inicialmente ou não, será sempre o presente de Deus, que programa os renascimentos, entregando-o a mães e pais na Terra.
Por isso, jamais devemos pensar na interrupção da vida, em qualquer fase e de qualquer forma que ela fisicamente se apresente.
Salvo efetivo risco de morte para a gestante, não podemos cogitar do abortamento quando uma vida se inicia no ventre materno.
Todos podemos e devemos fazer nossa programação familiar, estabelecendo número de filhos e período mais propício para as gestações.
Mas, uma vez que a vida se encarregue de presentear-nos com outra vida, lembremo-nos de que talvez, seja essa vida, mais tarde, o nosso porto seguro frente aos problemas que nos alcançarão em dias futuros.
Redação do Momento Espírita.
Em 06.05.2011.