Momento Espírita
Curitiba, 22 de Novembro de 2024
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ícone Culminância do amor

Até que ponto o ser humano é capaz de amar? O mundo está repleto de pessoas que dizem ter amado intensamente e terem sido traídas.

Então, desiludidas, deixaram de amar. Algumas dessas, reagiram entrando em quadros depressivos, de difícil erradicação. Outras passaram a ofertar a indiferença a todos.

É como se tivessem substituído a capacidade de sentir por uma pedra fria, insensível.

Por isso, quando se lê a respeito do extremado amor de determinados seres, quando se ouvem relatos de certos gestos de amor, quase nos parecem impossíveis.

Impossível ser verdade que alguém ame ao ponto de desculpar agressões recebidas daqueles a quem se devota.

Exatamente esse foi o espanto daquela jovem que adentrou a enfermaria, onde se encontravam cerca de uns trinta hansenianos.

Era mais um local onde os enfermos eram acolhidos, amparados do que verdadeiramente algo que se pudesse assemelhar a um hospital. As missionárias não dispunham de todos os recursos que seriam necessários àqueles doentes.

A jovem viu a monja se aproximar de um dos internados e lhe pedir, de forma delicada, para ceder a sua esteira para um homem que acabara de ter a sua perna amputada.

Para aquele grupo de homens aquilo soou muito mal. Alguém gritou: Somos homens! Queremos um hospital, não um  morredouro!

Um deles avançou e golpeou com a cabeça, os joelhos da missionária. E um dilúvio de bengalas, muletas, pedaços de curativos, escarradas voaram na direção dela.

Garrafas estouraram contra as paredes.

Mão crispada sobre o próprio peito, a senhora se manteve imóvel, como uma estátua, perante aquele desabafo desenfreado. A revolta de quem se acredita em total desesperança.

Incrivelmente calma, com seus olhos serenos, Irmã Bandona, cujo significado do nome é Louvação a Deus, começou a orar, em voz alta:

Ó Deus de amor, tem piedade de Teus filhos que sofrem. Ó Deus de amor, dá-lhes a Tua piedade.

Desconcertados, os revoltosos se calaram. A baderna apaziguou. Depois cessou.

O ódio, que retorcia os rostos, deu lugar a uma inquietação.

Qual seria o castigo que receberiam por aquela agressão toda?

Os hansenianos viram a missionária avançar, na direção da primeira esteira.

E, passando lentamente, entre as fileiras de esteiras, ela pediu a cada ocupante que repetisse depois dela a oração que iria recitar.

A jovem, que a tudo assistia, protegida por detrás de uma coluna, haveria de relembrar por muito tempo o espetáculo desses hindus, muçulmanos e cristãos, supliciados pelo sofrimento, recitando juntos, frase após frase, na paz reencontrada, as palavras do Pai  Nosso.

*   *   *

Amai-vos uns aos outros, ensinou Jesus. Os que exercitam esse ensino amam, muito além da compreensão humana.

Compreendem as dores alheias, o desespero em forma de revolta dos sofredores e simplesmente ofertam o sublime sentimento do amor.

Pensemos a respeito. Meditemos um tanto mais em torno do significado do verdadeiro amor.

 

Redação do Momento Espírita, com base no cap. 10, do livro Muito além do amor, de Dominique Lapierre, ed. Salamandra.

Em 16.05.2011.

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