Um poeta do Líbano, que amou Jesus, escreveu um dia a respeito dEle, mais ou menos assim:
Quando Jesus nasceu, Maria, Sua mãe o envolveu em seus braços, como a concha envolve a pérola. E Ele palpitava com o ritmo de sua vida.
Passaram-se as estações, e Ele tornou-se um menino cheio de risos. Ninguém entre nós sabia o que Ele iria fazer, pois parecia sempre fora da nossa espécie.
Brincava com os outros meninos mais do que estes brincavam com Ele.
E Ele cresceu como uma palmeira preciosa em nossos jardins. Seus olhos eram como mel, e cheios do assombro dos dias.
E na Sua boca havia a sede do rebanho do deserto pelo lago.
Depois, os anos O levaram a falar no templo e nos jardins da Galileia. Às vezes, Maria O seguia para lhe escutar as palavras e ouvir as batidas de seu próprio coração.
Jesus visitou outras terras no Leste e no Oeste. Mas Maria O esperava no limiar da casa e, cada entardecer, seus olhos procuravam na estrada pela Sua volta.
Entretanto, após a Sua chegada, ela costumava dizer-nos: "Ele é grande demais para ser meu filho."
Parecia que Maria não podia acreditar que a planície tivesse dado nascimento à montanha.
Foi na juventude do ano, quando as flores vermelhas enchiam os montes, que Jesus chamou Seus discípulos e foi a Jerusalém.
Pelo anoitecer da quinta-feira, Ele foi capturado fora das muralhas da cidade e feito prisioneiro. Maria, Sua mãe, não pronunciou uma palavra.
Mas surgiu em seus olhos o cumprimento daquela promessa de dor e alegria que tínhamos observado quando ela era apenas uma noiva em Nazaré.
Nós chorávamos porque sabíamos qual ia ser o amanhã do seu filho. Mas ela não chorava porque também sabia o que Lhe iria acontecer.
Quando os cascos abafados do silêncio batiam nos peitos dos insones, João, o discípulo amado de Jesus veio e disse: "Mãe Maria, Jesus está indo. Sigamo-lO."
Quando atingiram o monte, Jesus foi erguido na cruz. A face de Maria não era a face de uma mulher desolada. Era o semblante da terra fértil, sempre dando nascimento.
Então Jesus olhou para Sua mãe e disse: "Maria, a partir de agora sê a mãe de João."
E a João Ele disse: "Sê um filho amoroso para essa mulher. Vai a sua casa, e que tua sombra cruze o limiar onde outrora Me postei. Faze isso em Minha memória."
E Maria disse: "Olhai agora, Ele se foi. A batalha está terminada. A estrela já brilhou. O navio chegou ao porto. Aquele que apertei contra meu peito está palpitando no espaço.
Mesmo na morte, Ele sorri. Venceu. Fui sem dúvida a mãe de um vencedor."
E Maria voltou a Jerusalém, apoiada em João, o jovem discípulo. E para todos os que quisessem e nela procurassem consolo, ela falava de Jesus.
Falava longamente de tudo que acontecera, de Seus ditos e de Seus feitos, transformando o inverno das incertezas em primavera de esperanças.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. Susana
de Nazaré, uma vizinha de Maria, da obra Jesus, o filho do homem,
de Gibran Khalil Gibran, ed. Iarte.
Em 20.04.2011.