Foi no dia 7 de setembro de 1868, na sessão magna da Associação do Ginásio Literário, em São Paulo, quando se comemorava a Independência do Brasil. O poeta Castro Alves declamou a poesia Navio negreiro.
Nos versos, ele pintava com cores fortes e amargas o destino dos pobres negros, retirados do seio de sua terra mãe, onde eram livres, para os porões infectados dos navios.
Sua voz se ergueu naquela tarde, como de hábito o vinha fazendo em todas as oportunidades que lhe eram concedidas, para falar em nome dos seus irmãos escravizados. Eram homens e credores de dignidade.
O ardor com que leu os versos inflamou corações. E desagradou muito aos escravocratas. Na tarde de 14 de novembro daquele mesmo ano, o poeta foi baleado. Atingiram-lhe o pé esquerdo. O objetivo dos escravocratas era assustar o poeta e a quem mais se atrevesse a falar contra o tráfico de escravos.
Como resultado do atentado, Castro Alves passou a andar de muletas. Quando o médico lhe retirou do pé 38 grãos de chumbo, ele disse:
Corte-o, doutor, ficarei com menos matéria que o resto da Humanidade.
Demonstrando que os valores espirituais devem suplantar os problemas físicos, ele não deixou de trabalhar. Prosseguiu a produzir versos e mais versos.
Amava as estrelas e chegou a denominar a Estrela D'alva de A lágrima do Cristo, pelo sofrimento dos escravos.
Lutou contra o cativeiro, a ignorância e a opressão. Foi o poeta dos escravos, lutou pela sua libertação. Inspirado por essas ideias é que escreveu as belíssimas páginas Vozes da África e Navio negreiro.
O seu exemplo nos fala de que as dificuldades e as deficiências são colocadas em nosso caminho para que as superemos e vivamos bem, em consonância com as Leis de sabedoria do Criador.
À semelhança dele, portadores de necessidades especiais várias aceitam suas incapacidades. Procuram compensá-las com os recursos técnicos de que dispomos na atualidade. E, claro, um enorme esforço próprio.
Preparam-se para assumir papéis na vida familiar e na sociedade. Basta que recebam uma chance e que as portas não estejam fechadas para eles.
Andam ou são conduzidos pelas ruas transportando suas mochilas com material de estudo ou instrumentos de trabalho. Confiantes em si mesmos, estão dispostos a fazer duplo esforço para desenvolver o seu potencial.
Se os que os cercamos lhes proporcionarmos chance, os seus resultados serão como na Parábola Evangélica a cento por um.
* * *
As pessoas com necessidades especiais são credoras de compreensão e assistência para que sejam capazes de superar as próprias limitações.
Vencendo obstáculos, transmitem a mensagem de ânimo, a confiança na vitória da tenacidade. A sua direção é o progresso e a sua meta é o bem.
E toda vez que alcançam os seus objetivos provam a vitória do Espírito sobre a matéria.
Redação do Momento Espírita, com base no artigo A deficiência física na vida de Castro Alves, da revista Terra azul, ano II, nº 8.
Em 03.12.2010.