Era um rico fazendeiro. Enriquecera repentinamente, graças a uma herança de parente afastado que morrera, sem deixar outros herdeiros.
Tão logo tomou posse da imensa propriedade, mostrou-se arrogante e orgulhoso. Sabia somente exigir. As palavras Por favor e Obrigado jamais chegavam aos seus lábios.
Eram somente ordens grosseiras, mandos e desmandos. Se um empregado cometia uma pequena falha, era tratado com muita grosseria.
Se alguma enfermidade tomava conta de um deles, logo tratava de o mandar embora da fazenda. Às vezes, nem lhe pagava todos os direitos trabalhistas.
Ele se considerava o rei daquele local. Ninguém tinha maior poder que ele. Era exigente no cardápio das refeições e se o alimento estivesse com menos sal, ou quente demais, ou não tão gostoso como esperava, coitada da cozinheira.
Ouvia, durante horas, os seus gritos e ameaças. É claro que, com tal atitude, ele não tinha amigos. Os serviçais permaneciam ao seu lado muito mais pela necessidade de emprego do que por qualquer outro motivo.
Certo dia, em que estava deitado em sua rede, debaixo das árvores, tomando delicioso refresco, ouviu os gritos de uma mulher que suplicava ajuda.
O filho de três anos caíra em um buraco. Para retirá-lo seria necessário um carro de tração para descer um homem aos poucos e o retirar de lá. Ele possuía o carro. Talvez pudesse emprestá-lo e também dois empregados para ajudá-la a salvar o filho.
O homem se enraiveceu. Quem era aquela mulher que invadia a sua propriedade daquele jeito? O que é que ele tinha a ver com o problema dela? O filho era dela. Ela que resolvesse a situação. E a expulsou de suas terras.
Passados uns dias, ele amanheceu doente. Naturalmente, alimentando tanta raiva, se intoxicara. Amanheceu inchado. Não podia andar, nem se mexer. Mal falava porque a língua inchara demais.
Foram chamados médicos que cobraram uma fortuna, lhe deram muitos remédios e não conseguiram curá-lo.
Um dia, em que as dores mais o atormentavam, ele ordenou ao seu servidor particular que procurasse alguém que o curasse.
O bom criado saiu e voltou hora depois com uma mulher, que logo começou a tratá-lo.
Iniciou orando ao lado do seu leito. Durante dias, serviu-lhe a alimentação, e lhe tratou a febre.
Usava de carinho para lhe dar o banho, colocava almofadas para que tivesse reduzido o desconforto. Esmerava-se no atendimento.
Quando ele se queixava de dores, ela fazia compressas e orava. Acarinhava-o e lhe falava da igualdade entre os homens. Ricos e pobres, bons e maus, bonitos e feios, perfeitos e deficientes.
Aos poucos, ele foi se sentindo tocado por aquela mulher, por aquelas palavras e, um dia, lhe perguntou, já bem melhorado seu estado de saúde:
Quem é você, afinal?
Não me reconhece? Ela perguntou.
Só então o rico fazendeiro percebeu que a sua benfeitora era aquela mulher que o procurara para que ele lhe salvasse o filho.
* * *
Não desprezemos a ninguém porque, em síntese, o Divino Pai nos colocou no mundo, como filhos Seus, para que nos auxiliemos mutuamente.
Deus materializa o Seu auxílio através dos braços e mãos dos homens. E fala do Seu amor pela boca dos que servem a seus irmãos, sem considerar cor da pele, posição social, raça ou crença religiosa.
Redação do Momento Espírita, com base em história do livro O melhor é viver em família, v. 9, de Marilena Mota Alves de Carvalho, Vera Verônica do Nascimento Cavalcanti, Berenice Castro Gonçalves Leite e Nancy Medeiros, ed. Celd.
Em 29.10.2010.