O que aconteceria se todos nós, em nosso cotidiano, saíssemos às ruas com a câmara fotográfica da alma, a máquina filmadora da mente e o microfone do coração?
Isso mesmo. Que tal se todos nos tornássemos repórteres de um jornal imaginário mas importantíssimo: O nosso diário?
Estamos habituados a ler as manchetes jornalísticas que falam da violência, da queda das Bolsas de Valores, de maldades e tragédias.
Não seria excelente se criássemos um jornal particular de coisas boas, elevadas, sadias? Será que existem?
Dia desses fizemos uma experiência. Saímos em nosso carro, levando justamente os aparelhos que mencionamos.
Depois de rodar por ruas e esquinas, fomos surpreendidos próximo a uma favela por um movimento diferente. Seria um protesto?
Logo, um homem enorme, de bermuda e camiseta, interrompeu o trânsito. Um grupo de moradores da superfavela pareceu vir em nossa direção. Seria um assalto?
Eram homens, mulheres e crianças com foices e tesouras. Atravessaram a rua carregando carrinhos pequenos e grandes cheios de mato.
Então, ligamos a câmara fotográfica da alma e o microfone do coração para registrar a cena. Eram os moradores da superfavela.
Trabalhadores. Mulheres faxineiras, domésticas e homens habituados ao trabalho braçal, de sol a sol. Era seu dia de folga. As crianças também não tinham aula naquele dia.
Porque o mato do lado da favela já estava a mais de um metro de altura, eles haviam resolvido limpar o terreno que bem poderia servir para os garotos chutarem bola nos finais de semana e feriados.
Os menores, andar de bicicleta e correr. Os bebês, tomarem sol no colo das suas mamães.
Dia de descanso. Dia de limpeza geral. Mutirão da ecologia. Lição de solidariedade. Trabalho conjunto para o bem de todos.
Quando a longa fila terminou de desfilar, o trânsito foi liberado e prosseguimos.
Dia seguinte passamos por uma escola. Hora de aula, mas três garotos, de uniforme, estavam no jardim. Um deles tinha uma mangueira e outros dois estavam com regadores.
Ligamos o microfone do coração e a filmadora da mente para não perder a cena.
As flores balançavam ao vento, agitando suas hastes, felizes pelas gotas d'água que as refrescavam do calor do dia.
Um caco de vidro resmungou: Por isso o Brasil não vai prá frente. Ao invés de estudar, eles ficam molhando plantinhas.
O canteiro, cheio de rosas coloridas, atraiu uma garotinha da primeira série que se aproximou e falou:
Eu gosto desta escola porque tem flores. João, eu posso ajudar?
Descemos do carro, recolhemos o caco de vidro e o jogamos em uma lata de lixo logo adiante. Voltamos para casa com belas fotos, interessantes histórias e imagens maravilhosas de cenas de amor à natureza e aos homens.
* * *
Quando cada qual se dispuser a realizar a parte que lhe toca, no concerto do mundo, sem se importar com o que o outro deve fazer, o mundo terá alcançado grande progresso.
As ruas se mostrarão limpas, as calçadas livres de entulhos, as casas bem pintadas, as escolas cheias de flores, os hospitais com belos jardins, para alegrar os que se encontram em recuperação de suas enfermidades.
Quando todos nos empenharmos em fazer o melhor que pudermos, a nossa parte, por menor que seja, teremos atingido o mundo melhor que todos sonhamos.
Redação do Momento Espírita, com base
em reportagem, de Glenda Maier, publicada no
Jornal O Repórter, de maio/junho 1999.
Em 4.7.2023.
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