A união esponsalícia considerada menos feliz traduz uma experiência bastante dolorosa.
Não se defende que uma pessoa suporte a contragosto a truculência e o peso de outra.
Todo Espírito é livre para definir-se, em seu pensamento, quanto às próprias resoluções.
Entretanto, antes de se optar pelo rompimento, convém refletir sobre o que seria uma verdadeira libertação.
A Lei Divina se encontra inscrita na consciência de cada ser e jamais é burlada.
Toda pedra lançada nos caminhos alheios também permanece com quem a lança, na forma de sofrimento.
A angústia persiste enquanto não se remove a sua causa.
Nas ligações afetivas, colhem-se muitas alegrias.
Contudo, é também dentro delas que surgem as provas mais duras.
Afinal, sempre se recebe, no companheiro ou na companheira da vida íntima, o reflexo do que se é.
Enquanto não for devidamente solvido, o passado teima em retornar na forma de experiências purificadoras.
O matrimônio pode ser precedido de doçura e de esperança.
Mas isso não impede que a sucessão dos dias traga aos cônjuges o resultado das criações que deixaram para trás.
A jovem suave, que hoje fascina, será talvez amanhã a mulher transtornada, capaz de impor graves dificuldades aos projetos de felicidade de seu marido.
No entanto, essa mesma jovem foi em outras existências a vítima de seu atual esposo.
Por deslealdade ou inconsequência, ele a converteu na mulher temperamental ou infiel que agora lhe cabe relevar e retificar.
Hoje um rapaz distinto atrai a companheira para os laços da comunhão mais profunda.
Quem sabe amanhã ele será o homem cruel e desorientado, que a cumulará de aflições e constrangimentos.
Ocorre que esse mesmo rapaz, em vidas pretéritas, foi vítima da companheira atual.
Então, desregrada e caprichosa, ela lhe desfigurou o caráter e o converteu no homem vicioso ou fingido que agora deve tolerar e reeducar.
Muitas vezes se ama alguém, a quem se entrega, no ajuste sexual, desejando uma ligação duradoura e profunda.
Somente depois é que nesse alguém se surpreendem defeitos e nódoas antes invisíveis.
Nesses casos, se está diante de uma pessoa a quem se dilapidou no passado.
Hoje, ela fere exatamente nos pontos em que foi ferida.
Não se trata só de processo de cobrança e acerto de contas.
A criatura prejudicada está a esmolar compreensão e assistência, para se refazer perante as leis dos destinos.
Nesse contexto mais amplo, a união supostamente infeliz deixa de ser um cárcere de lágrimas para se converter em um educandário amoroso.
Nela, o Espírito equilibrado e afetuoso, longe de desertar, aceita, quando consegue, auxiliar sua vítima do passado.
Com isso, liberta-se das sombras do ontem para elevar-se, em silenciosa vitória sobre si mesmo, para os domínios da luz.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 9, do
livro Vida e sexo, pelo Espírito Emmanuel, psicografia
de Francisco Cândido Xavier, ed. Feb.
Em 03.09.2010.