Quando nosso amado morreu, a Humanidade morreu, e por um tempo tudo ficou paralisado e cinzento.
Então, o Oriente escureceu e uma tempestade irrompeu, varrendo a Terra.
Os olhos do céu abriram-se e fecharam-se, e a chuva caiu torrencialmente lavando o sangue que jorrava das mãos e dos pés.
Também eu morri. Mas, nas profundezas do meu esquecimento, Ele disse:
"Pai, perdoai-os, pois eles não sabem o que fazem."
E Sua voz buscou o meu Espírito que se afogava e o trouxe à praia.
Ao abrir meus olhos, vi Seu corpo pálido pendurado a uma nuvem, e Suas palavras tomaram forma no meu corpo e tornei-me um novo homem.
Não mais me entristeci.
Quem se entristeceria por um mar que desvela seu rosto, ou uma montanha que ri ao sol?
Que homem diria tais palavras ao ver seu coração atingido?
Que outro juiz dos homens libertou seus juízes?
E alguma vez o amor desafiou o ódio com força mais segura de si própria?
Alguma vez foi tal clarim ouvido entre o céu e a Terra?
E houve alguma outra vez em que o assassinado tenha se compadecido do seu próprio assassino? Ou que o meteoro teria se retardado para poupar a toupeira?
As estações se cansarão e os anos envelhecerão, antes que essas palavras se exauram: "Pai, perdoai-os, pois eles não sabem o que fazem."
E nós, embora gerados por muitas e muitas vezes, as guardaremos...
* * *
Jesus não só ensinou pelo discurso. Ele foi além, exemplificando, um a um, todos eles.
Já havia falado sobre o perdão, sobre as setenta vezes sete vezes, e nos instantes derradeiros de Sua vida na Terra, mostrou, com beleza suprema, a prática do perdoar.
Qualquer outro condenado injustamente estaria se debatendo, acusando seus assassinos, jogando-lhes pragas, prometendo vingança.
Ele não... Ele nunca faria isso.
Ele compreendia o coração adoecido do homem da Terra e assim percebia que, naquele momento, quem precisava de ajuda, de amparo, não era Ele, mas sim, eles, Seus opositores.
Não os tinha como inimigos, pois não guardava ódio algum. Eram opositores momentâneos, opositores da verdade, toupeiras aterradas no solo da ignorância.
Ele, como meteoro gigantesco, amoroso em grau extremo, identifica a toupeira se debatendo no chão, e retarda sua investida para não prejudicá-la.
Seu pedido de perdão por elas representa tal sentimento sublime.
* * *
Pensemos no gesto do Cristo, grandioso, surpreendente.
Que ele nos inspire a perdoar, começando pelas pequenas coisas do dia a dia.
Que sejamos mais tolerantes com os deslizes do nosso próximo.
Que entendamos que os maus estão doentes, infelizes, e precisam de nossa ajuda, e não de nossa animosidade em retribuição à sua.
Perdoar é livrar-se do peso da mágoa, que consome com o passar dos dias. Perdoar é fazer-se leve, elevando-se acima das dificuldades do mundo, assim como Jesus o fez.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. Filipe,
do livro Jesus, o filho do homem, de Khalil Gibran,
ed. EDIOURO.
Em 25.1.2024.
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