Momento Espírita
Curitiba, 23 de Novembro de 2024
busca   
no título  |  no texto   
ícone A ilusão do Xeque

 Conta-se que, há muito tempo, uma caravana voltava de uma viagem do distante reino de Tiepur, liderada pelo Xeque Hamal Saedah.

Era quase certo que no dia seguinte o grupo alcançaria, antes do nascer da lua, os portões de Bagdá, encerrando a longa jornada.

No entanto, Hamal Saedah demonstrava inquietação e nervosismo.

Quando indagado sobre isso por um de seus servos, respondeu, diante de todos os homens do grupo:

Nossa viagem está quase terminada, e estou certo que nada de grave, de importante ou de curioso acontecerá com nossa caravana.

Depois de ligeira pausa, acrescentou desolado:

É por isso que pesa sobre mim uma nuvem sombria de inquietações e de desgostos.

Afinal, duas caravanas foram enviadas pelo nosso rei ao país de Tiepur, antes da nossa.

A primeira, chefiada por Labid, enfrentou uma estranha aventura.

Os caravaneiros encontraram alta noite, em pleno deserto, um guerreiro fantasma.

A segunda caravana, dirigida por Zobeir Dayer, ao deixar o oásis de Amin, viu-se envolvida por uma imensa nuvem de grilos selvagens e agressivos.

Um dos caravaneiros pereceu nessa prodigiosa luta e dois outros ficaram feridos.

Labid e Zobeir, logo que regressaram, foram recebidos pelo rei.

E cada um deles pôde narrar uma aventura emocionante que arrancou aplausos e felicitações do monarca.

O que direi eu ao rei, quando regressarmos?

Nada terei para contar. E isso, para mim, é uma grande humilhação.

Ao romper da madrugada, Mojalek, um dos caravaneiros, despertou os demais, aos gritos, informando que o Xeque Hamal havia sido sequestrado.

Segundo narrava Mojalek, três bandidos haviam lutado com o Xeque e, após dominá-lo, partiram a galope, levando-o.

Formou-se um grupo de resgate, que saiu ao encalço dos bandidos, a fim de salvá-lo.

Quando alcançados, no entanto, os bandidos não ofereceram resistência, fugiram como sombras, tomando rumo ignorado.

O Xeque foi libertado com apenas um ferimento na cabeça e dois outros menores junto ao nariz.

Não querias uma aventura? - indagou Mojalek - Pois agora, terás o que contar ao rei.

No dia seguinte, porém, já em Bagdá, quando era esperado pelo rei, o Xeque foi novamente interpelado por Mojalek.

Este lhe entregou um papel dizendo que, se realmente pretendia contar a aventura ao rei, deveria antes lhe pagar o que devia.

Surpreso, o Xeque leu o que havia no papel:

Pelo pagamento para três falsos sequestradores, 300 dinares; para o aluguel de quatro cavalos, 60 dinares; pelas cordas e mordaças, 20 dinares, e para guardar absoluto sigilo, 5.000 dinares.

Envergonhado pela farsa ridícula em que se vira envolvido, o Xeque pagou o que lhe foi exigido, porém, jamais narrou a falsa aventura a quem quer que fosse.

Tendo em vista seu equivocado desejo de ser considerado um grande herói e viver indescritíveis aventuras, foi explorado de modo vil por um daqueles que o deveria servir.

*   *   *

Não são raros aqueles que passam a vida esperando por um grande acontecimento, uma grande aventura.

Deixam de cumprir pequenas, mas relevantes tarefas, porque se consideram destinados a feitos de maior importância.

Assim, por orgulho, não se envolvem em trabalhos que consideram menores, e, por conseguinte, jamais estarão preparados para realizar grandes obras.

Redação do Momento Espírita, com base na
 obra O livro de Aladim, pág. 31/41, de
Malba Tahan, ed.Record
Em 24.06.2009.

© Copyright - Momento Espírita - 2024 - Todos os direitos reservados - No ar desde 28/03/1998