Não há quem caminhe pelas estradas da vida sem que cruze, em algum momento, com a dor. Em um mundo inconstante, onde as certezas são relativas, a dor é processo quase inevitável.
Algumas vezes, ela nos oferece a separação de quem amamos, pelo fenômeno da morte. Outras vezes é a doença que se instala, no nosso ou no corpo alheio.
Em outras ainda, a dor é o revés financeiro, que nos perturba a mente e desfaz alguns planos.
Seja qual for sua origem, ela sempre provocará momentos de reflexão e análise. É o freio que a vida coloca em nosso cotidiano, em nossos valores, em nossas manias, provocando questionamentos a respeito do nosso viver.
Nesses momentos, alguns optamos pela revolta, acreditando-nos injustiçados. Não vemos utilidade na dor.
Outros de nós entendemos os mecanismos de Deus como justos. Se Ele é a síntese maior do amor, certamente Seus desígnios são pautados pelo amor.
É necessário que repensemos o papel da dor para cada um de nós. Ela não é ferramenta de castigo de Deus, ou obra do acaso. Um Deus amoroso jamais agiria por acaso, ou castigaria Seus filhos.
Toda dor que nos surge é convite da vida para o progresso, para a reflexão, para a análise de nossos valores e de nosso caminhar.
Quando ela se apresenta, traz consigo a oportunidade do aprendizado, que não se faria melhor de outra forma. Ou devemos convir que Deus acharia outras fórmulas.
Naturalmente não devemos ser apologistas da dor, e buscá-la a todo custo. De forma alguma. Deus nos oferece a inteligência e os recursos das mais variadas ciências, para diminuir nossas dificuldades e dores.
Assim, para as dores da alma, devemos buscar os recursos da oração, do atendimento fraterno, da psicologia e da psiquiatria. Para as dificuldades do corpo físico, os recursos clínicos ou cirúrgicos.
Porém, quando todos esses recursos ainda se mostrarem limitados, a dor que nos resta é nosso cadinho de aprendizado. A partir daí, nossa resignação dinâmica perante os desígnios da vida nos ajudará a entender o que a vida nos está oferecendo.
Quando entendermos que a dor vem acompanhada do aprendizado, começaremos a perceber a música da vida, e qual canção ela está nos convidando a entoar com ela.
Tenhamos certeza de que nada que nos aconteça é obra do acaso. Somos herdeiros de nós mesmos, desde os dias do ontem. Por isso, hoje, inevitavelmente, nos encontramos com nossas heranças.
As carências de hoje são a resultante dos desperdícios do ontem. As dores são espinhos que colhemos agora, do plantio que, de forma deliberada, realizamos nos caminhos percorridos.
A dor é mecanismo de crescimento e aprendizado, ainda necessária, como ferramenta de progresso, enquanto o amor não nos convencer a deixá-lo administrar nossas ações e nosso proceder.
Nesses tempos, não mais a dor será visita em nossa intimidade, pois toda ela estará tomada em plenitude pelo amor, que, como bem nos lembra o apóstolo Pedro, é capaz de cobrir a multidão dos pecados.
Redação do Momento Espírita.
Disponível no livro Momento Espírita, v. 9, ed. FEP.
Em 19.1.2024.
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