Sócrates está preso.
Acusado pelo Tribunal dos Heliastas de não reconhecer os deuses que a cidade reconhecia e de corromper os jovens, com seus ensinos nobres, o septuagenário sábio tem seu corpo enjaulado por 40 dias.
Sim, seu corpo apenas, pois de seu Espírito jamais conseguiram sequer chegar perto seus acusadores.
Obviamente se tratava de uma condenação injusta. Injustiça dos homens, mas que o filósofo aceitou com tranqüilidade e segurança.
Seus discípulos, porém, não aceitaram tão facilmente assim, e chegaram a elaborar um plano de fuga para o mestre.
Tudo estava arranjado: compra de guardas, rota de fuga, navio. Sócrates poderia assim fugir com certa facilidade, graças aos amigos e admiradores.
A dificuldade única estava em convencê-lo de que deveria escapar.
Se me provarem por argumentos racionais, que devo fugir, fugirei. - Disse aos discípulos preocupados.
Assim ouviu o argumento da defesa da vida: Ora, viver é o mais importante! - clamaram entusiasmados.
Ao que ouviram como resposta: A única coisa que importa é viver honestamente, sem cometer injustiças, nem mesmo em retribuição a uma injustiça recebida.
Assim o mestre ateniense deixava claro que mais importante do que viver, seria bem viver, viver dignamente, sem ter a alma manchada pelos delitos.
Ninguém, nem os amigos e nem mesmo a esposa, que o visita uma última vez, com os filhos, conseguem convencê-lo a ir contra sua consciência.
Mais difícil é evitar o mal, pois ele corre mais rápido que a morte. - Afirmava também, procurando fazer com que todos entendessem que a morte não era o maior mal.
Platão narra que, finalmente, chega o carcereiro com a cicuta. Sócrates toma o veneno num gole só. Os amigos soluçam.
Ainda tem tempo de consolá-los em seus últimos segundos de vida corporal: Não, amigos, tudo deve terminar com palavras de bom augúrio: permanecei, pois, serenos e fortes.
* * *
Que alma honorável! Que postura impecável perante a vida e seus males...
O importante é bem viver... Sim, viver com honestidade, com honradez, dignamente.
A vida do corpo não é mais importante do que as virtudes da alma. Assim nos mostraram vários dos grandes Espíritos que encarnaram na Terra.
A vida do corpo de alguns lhes foi tirada, mas de nenhum deles se conseguiu matar virtudes, os seus ensinos ou a integridade de caráter.
Não estamos aqui, na Terra, para viver apenas - que fique bem claro aos bons vivants do mundo.
Estamos aqui para bem viver, para crescer e ajudar o mundo ao nosso redor a realizar seu progresso.
Tudo que nos ponha num sentido oposto a esse, deve ser repensado com urgência.
A única coisa que importa é viver honestamente, sem cometer injustiças, nem mesmo em retribuição a uma injustiça recebida.
Redação do Momento Espírita com base
no livro Apologia de Sócrates, de
Platão, ed. Escala.
Em 28.10.2008.