Momento Espírita
Curitiba, 25 de Novembro de 2024
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ícone A verdadeira desgraça

        Toda gente fala da desgraça, toda gente já a sentiu e julga conhecer-lhe o caráter múltiplo.

        No entanto, quase todos nos enganamos. A desgraça real não é, absolutamente, o que pensamos, isto é, o que os desgraçados o supõem.

        Para nós a desgraça está na miséria, no fogão sem lume; no credor que ameaça, no berço do qual o anjo sorridente desapareceu; nas lágrimas, no féretro que se acompanha de cabeça descoberta e com o coração despedaçado; na angústia da traição, na desnudação do orgulho que desejara envolver-se em púrpura e mal oculta a sua nudez sob os andrajos da vaidade.

        A tudo isso e a muitas coisas se dá o nome de desgraça, na linguagem humana.

        Sim, é desgraça para os que só vêem o presente. A verdadeira desgraça, porém, está na conseqüência de um fato, mais do que no próprio fato.

        Pensemos, se um acontecimento, considerado ditoso na ocasião, mas que acarreta conseqüências funestas, não é, realmente, mais desgraçado do que outro que, a princípio, causa viva contrariedade e acaba produzindo o bem.

        Vejamos se a tempestade que arranca as árvores, mas que saneia o ar, dissipando os miasmas insalubres que causariam a morte, não é antes uma felicidade do que uma infelicidade.

        Para julgarmos de qualquer coisa, precisamos ver-lhe as conseqüências. Assim, para bem apreciarmos o que, em realidade, é ditoso ou inditoso para o homem, precisamos transportar-nos para além desta vida, porque é lá que as conseqüências se fazem sentir.

        Ora, tudo o que se chama infelicidade, segundo as acanhadas vistas humanas, cessa com a vida corporal e encontra a sua compensação na vida futura.

        Podemos pensar na infelicidade sob uma nova forma, sob a forma bela e florida que acolhemos e desejamos com as nossas almas iludidas.

        A infelicidade pode estar na alegria, no prazer, no tumulto, na vã agitação, na satisfação louca da vaidade, que fazem calar a consciência; que comprimem a ação do pensamento; que atordoam o homem com relação ao seu futuro.

        A infelicidade é o ópio do esquecimento que ardentemente procuramos conseguir.

        Para a criança, a infelicidade está em respeitar os limites e as disciplinas propostas pelos pais.

        Por sua vez os pais, que têm da vida uma visão mais abrangente, estão investindo numa felicidade futura para seus entes queridos, ensinando-os a viver com dignidade.

        Assim também acontece conosco em relação às disciplinas estabelecidas pelas leis maiores da vida. Onde só vemos a desgraça, está se processando a verdadeira felicidade.

*   *   *

        Superando com coragem os obstáculos do caminho, estaremos agindo como bravos soldados que, longe de fugirem ao perigo, preferem as lutas dos combates arriscados à paz que não lhes pode dar glória, nem promoção.

        Que importa ao soldado perder, na refrega, armas, bagagens e uniforme, desde que saia vencedor e com glória?

        Que importa ao que tem fé no futuro deixar no campo de batalha da vida a riqueza e o manto de carne, contanto que sua alma entre vitoriosa no Reino Celeste?

        Pensemos nisso!


Redação do Momento Espírita, com base no item 24,
do cap. V do livro
O Evangelho segundo o Espiritismo,
de Allan Kardec, ed. Feb.

Em 12.09.2008.

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