Momento Espírita
Curitiba, 23 de Novembro de 2024
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ícone A outra face
 

Dentre os ensinamentos de Jesus, alguns há que, à primeira vista causam estranheza.

Se não examinados com vagar, podem mesmo soar como contrassenso.

Dentre esses, a advertência a respeito de dar a outra face quando alguém nos agride, é um dos que merece detido exame.

Se levado ao pé da letra, atenta inclusive contra a própria lei de conservação, pois estaríamos nos entregando de forma passiva aos violentos.

Jesus, no entanto, como Modelo e Guia, de forma alguma falaria ou ensinaria algo indevido.

Ele mesmo deu mostras, ante a força da violência com que foi tratado pelos homens, como deve ser o correto comportamento.

Ante o sacerdote Anás, com as mãos amarradas, ao responder a uma indagação, recebe de um soldado violenta bofetada.

O Rei Solar, sereno sempre, argumenta com vigor a atitude. Se falei mal, mostra o que eu disse de mal. Mas, se falei bem, por que me feres?

Atesta assim o direito de defesa, da boa defesa, de não ceder terreno aos maus.

O que quererá pois dizer, dar a outra face?

Os que vivemos no mundo, transitamos num mundo feito de coisas, de exterioridades.

Mas, cada um de nós tem o seu mundo interno, íntimo, de seus próprios valores.

Dar a outra face significa exatamente ofertar esse mundo diferente ao mundo do comum dos homens.

Assim, defender seus direitos, mas cumprir seus deveres com alegria. E um pouco mais.

Na repartição pública, por exemplo, ao soar a hora de encerrar o expediente, é não parar de imediato o que se está fazendo e sair às pressas.

É concluir com vagar, mesmo que isso leve alguns minutos.

Isso significa fazer algo mais. Ofertar a outra face, a dos valores intrínsecos, ensinando a um mundo de aproveitadores, algo inusitado.

Se estamos atendendo um cliente e soa a hora de concluir nosso horário de trabalho, atendê-lo até o fim, verificando tudo de que ele precisa.

Isso nos custará alguns minutos a mais, sim. Mas, com certeza, não estragará nosso dia. Pelo contrário, nos dará a satisfação de ter realizado bem nossa tarefa.

Ninguém pensará, com certeza, em estando a aplicar uma injeção em um doente, e soar a hora de bater o ponto, largar a aplicação a meio e partir.

Completar a tarefa, verificar se está tudo bem com o enfermo, depois, liberar-se da atividade.

Se estamos digitando uma página, atendendo um telefonema, recepcionando alguém, a ninguém ocorrerá parar no meio, só porque seu horário de trabalho já acabou.

E assim em tudo em nossa vida. Se somos alguém que cuida de uma criança e nos compete banhá-la, alimentá-la, nosso dever é realizar isso.

Ofertar a outra face é nos preocuparmos em verificar se a temperatura da água do banho está adequada, se o alimento não está quente em demasia.

E o tempo que estivermos com ela, lhe dar atenção, brincar com ela, ouvi-la.

Se nosso compromisso é com idoso, dar a outra face é não somente fazer o essencial, mas se preocupar se ele está confortável, se algo mais pode ser feito.

Afinal, todos os que trabalhamos naturalmente o fazemos pensando no salário que nos beneficia. Contudo, não só por isso.

Trabalha-se porque se gosta de fazer aquilo. Por isso, estamos dirigindo ônibus e não em um escritório; estamos dando aula e não sendo vendedores.

Escolhemos o que desejamos fazer, porque aquilo nos faz bem.

Pensemos pois que será bem fácil dar um pouco mais, a outra face, a do nosso interior, cheio de vontade de tornar este Mundo um lugar bem melhor para se viver.

Redação do Momento Espírita, com base no programa televisivo
Vida e Valores, coordenado por Raul Teixeira,  intitulado
A outra face, ed. Fep.  
Em 03.05.2010.

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