Momento Espírita
Curitiba, 22 de Novembro de 2024
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ícone As duas faces

 

Afirma-se que um famoso pintor do Renascimento, quando pintava um quadro sobre o Menino Jesus, após conceber e fazer os primeiros estudos, procurou uma criança que lhe servisse de modelo para a face do Mestre, na infância.

Procurou em muitos lugares até encontrar um pequenino sujo, que brincava nas ruas. O menino retratava no olhar e na face toda a pureza, bondade, beleza e ternura que se podia conceber.

Explicou-lhe o que desejava e, ante a autorização da família, levou-o para posar no seu atelier, retribuindo-lhe o trabalho com expressiva soma em moedas de ouro.

Anos depois, o artista desejou pintar outro quadro. Dessa vez iria retratar Judas. E saiu em busca de alguém que pudesse lhe oferecer o rosto do traidor.

Em mercados e praças públicas, tavernas e antros de costumes perniciosos por onde esteve à procura, não encontrou ninguém que se assemelhasse, em aparência, ao discípulo equivocado.

Já havia desanimado de procurar e pensava em desistir, quando, visitando uma taberna de má qualidade, se deparou com um delinquente embriagado, em cujo olhar e semblante se encontravam os conflitos do traidor, conforme a concepção que dele fazia.

A barba endurecida, a cabeleira mal cuidada eram a moldura para o olhar inquieto, desconfiado, num rosto contorcido pelo desconforto íntimo, formando um conjunto de dor e revolta, insegurança e arrependimento ímpares.

Comovido com o fato, o artista convidou aquele homem para posar, ao que ele respondeu que só faria sob a condição de boa recompensa financeira.

O pintor começou a obra e percebeu, após algumas sessões, que a face congestionada daquele homem se modificava a cada dia, perdendo a agressividade e a perturbação.

Um dia resolveu perguntar ao modelo o porquê de tal transformação, ao que ele, um tanto melancólico, respondeu:

Posando nesta sala, recordo-me que há alguns anos, eu servi ao senhor de modelo para a face do Menino Jesus...

Eu sou aquele garoto em cujo rosto o senhor encontrou a paz e a beleza do justo traído...

O dinheiro que ganhei, em face da minha imaturidade, mais tarde pôs-me a perder e, de queda em queda, numa noite em que me embriaguei, por uma disputa insignificante matei outro homem.

Condenado num julgamento arbitrário, envenenei-me de ódio...

Agora, pisando neste lugar outra vez, recordo daquele tempo e retorno, emocionalmente, a ele, e me acalmo...

*   *   *

Paradoxalmente, o mesmo indivíduo ficou retratado na face de Jesus Menino e de Judas, em duas fases diferentes da mesma vida.

*   *   *

Muitos de nós, simbolicamente, temos os nossos dias de traído e de traidor.

Dias em que trazemos na face a expressão da bondade e da ternura. E dias em que somos o retrato vivo do desespero.

É nesses dias difíceis que devemos buscar, emocionalmente, a serenidade dos dias de luz e seguir em frente, com vontade de imprimir, de vez por todas, a face justa e bela do nosso modelo maior, que é Jesus Cristo.

Redação do Momento Espírita com base no cap. 28 do livro Seara do bem,
 por Espíritos diversos, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal.
Em 07.12.2009.

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