Momento Espírita
Curitiba, 22 de Novembro de 2024
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ícone Necessidade de reforma

        Vivemos tempos tormentosos.

        Há guerras em várias partes do Mundo.

        Em nosso país, o cenário político e social é desolador. Entre denúncias de corrupção e de venalidade, resta pouca fé nos homens públicos.

        A impunidade instiga novos desmandos. O povo se mira nas figuras eminentes e acredita encontrar no comportamento dessas, justificativa para seus próprios equívocos.

        Levar vantagem parece um objetivo que se generaliza pelo corpo social, a tal ponto que a idéia do sucesso como resultado de um esforço continuado e metódico torna-se pouco sedutora.

        O famoso “jeitinho brasileiro” não mais significa criatividade, mas apenas esperteza e falta de caráter.

        A História fornece inúmeros exemplos de civilizações que se corromperam e de como isso causou sofrimento aos seus integrantes.

        Em Roma, no período de transição entre a República e o Império, os costumes e os valores degeneraram.

        O filósofo e jurista Marco Túlio Cícero era profundamente angustiado com esse estado de coisas. Ele deixou inúmeros escritos que denotam sua preocupação com a corrupção que invadia a vida pública romana.

        Cícero se preocupava com medidas populistas freqüentemente adotadas pelos governantes. Tais medidas atendiam a caprichos da multidão, mas sem educá-la ou destiná-la a trabalho útil.

        Quem trabalhava era fortemente tributado, a fim de que largos benefícios fossem concedidos pelo Estado, sem qualquer critério razoável. Era, já naqueles tempos, a prática do assistencialismo, às custas dos contribuintes.

        Mas o que mais indignava Cícero era a corrupção e a troca de favores envolvendo o dinheiro público. Ao refletir sobre os valores fraternos, afirmou:

        “Estabeleçamos, pois, como lei primeira da amizade, não pedir nem conceder nada de vergonhoso. É uma desculpa indigna de ser admitida em qualquer pecado, e principalmente naqueles cometidos contra o Estado, confessar que se agiu por um amigo.”

        Bem se percebe a semelhança com a situação brasileira atual, pois ainda vivemos sob o regime do compadrio: o dinheiro público é rateado entre alguns, como se particular fosse.

        Aproximadamente dois milênios nos separam da crise vivida pelo Mundo Romano, que provocou sua desarticulação. Nesse período, a Humanidade evoluiu muito, sob os prismas intelectual e científico. Mas, embora alguns avanços, permanece titubeante, no que tange à moralidade.

        Na verdade, todos sofrem em razão da falta de ética. São inúmeros os prejuízos oriundos da torpeza generalizada.

        Um deles é o aumento dos preços de produtos e serviços, causado pela inadimplência: os comerciantes computam em seus custos e, conseqüentemente, nos preços que praticam, um percentual destinado a fazer frente aos calotes que ordinariamente sofrem. Se todos tivessem o hábito de pagar regularmente as próprias contas, isso não ocorreria.

        Por outro lado, o desvio do dinheiro público dificulta a construção de creches, escolas e hospitais. Sem uma estrutura adequada de serviços básicos, a vida da população, especialmente de baixa renda, torna-se mais difícil.

        Como decorrência, cresce o número de desesperados e revoltados, a insegurança e a violência se alastram, em prejuízo de todos, ricos ou pobres.

* * *

        O progresso intelectual é precioso, mas por si só não garante a paz.

        Se queremos viver em um mundo melhor, mais harmonioso, importa aprimoremos a moralidade. É imperioso um esforço em promover uma profunda reforma ética.

        Como toda mudança começa no indivíduo, para que a sociedade melhore, cada um deve esforçar-se em se aprimorar.

        Torna-se imperativa a adoção de novos hábitos: chega de levar vantagem, de fugir dos próprios deveres; basta de mentir, fraudar, sonegar e trair.

        O patrimônio público é sagrado e todos são responsáveis por ele. O dinheiro público não existe para ser apropriado por alguns, mas para atender demandas relevantes da coletividade. Impõe-se a severa fiscalização de sua utilização, como o cumprimento de um dever.

        Quando formarmos uma sociedade consciente e cumpridora de seus deveres, apenas por isso já desfrutaremos de grande tranqüilidade.

 

Redação do Momento Espírita, com base
 no livro Diálogo sobre a Amizade,
 de Marco Túlio Cícero, ed.
 Cultura Moderna Sociedade.
Em 02.01.2008.

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