A
depressão, comenta-se, é a doença do século. Ouve-se falar em estresse,
desmotivação para a vida, desalento.
Qual será o
motivo de tanto desânimo?
Alguns
apontam as tragédias naturais que arrasam populações, as guerras constantes, a
inflação, como responsáveis primordiais.
Outros falam
na esperança que viajou para lugares ignotos, com passagem única.
No entanto, é
bem verdade que pessoas que sobrevivem a dores acerbas, a problemas graves, não
são as que se apresentam mais acabrunhadas.
Por que
vivemos, então, sem motivação?
Quando
crianças, somos naturalmente entusiastas. Quem não se recorda que tudo nos
encantava?
Quando
aprendemos a falar, não parávamos de conversar. No ônibus, na rua, no carro, em
casa. Um contínuo “tatibitati”.
“Olha, mãe!
Que lindo!”
“Mãe, mãe,
olha o cavalinho!”
“Hei, pai!
Você viu que carrão legal? Você viu, pai?”Quase sempre, o silêncio era a
resposta.
Adultos andam
sempre pensativos. Têm muitos problemas.
E de tanto
falar, sem resposta, fomos absorvendo a idéia de que adultos são pessoas sérias,
com muitas dificuldades a resolver.
Nada mais
natural que tenhamos assumido essa postura, ao nos tornarmos adultos.
Mas quando
crianças, olhávamos o mar imenso, as ondas gigantes, a areia interminável, a
bola.
Corríamos
pela praia, incansáveis.
“Vem, pai,
vamos buscar água com meu baldinho.”
“Pai, entra
na água comigo?”
“Pai, você me
carrega?”
A resposta
quase sempre era:
“Dá pra dar
um tempo? Pode me deixar em paz um momento?”
“Dá pra
parar?”
E fomos
assimilando a idéia de que pessoas adultas são pessoas cansadas.
Quando
crescemos, tomamos a postura do cansaço das coisas, do desencanto pela natureza,
pelo que nos cerca.
Cadê o
encanto do mar barulhento?
Cadê a graça
de mergulhar nas ondas, de fazer esculturas na areia, de jogar bola?
Um dia,
descobrimos o mundo mágico das letras. Essa bolinha, com um ganchinho para o
lado, mais essa outra com três perninhas, mais... Dava amor.
Começamos a
escrever amor no livro de receitas da mamãe, no bloco de anotações do papai, na
agenda telefônica.
“Pare de
rabiscar, menino!”
Percebemos
então que os adultos não costumam escrever coisas bonitas quando as descobrem.
Sentimentos
são para serem armazenados. Não expostos.
Mergulhamos no mundo da leitura. Viagens fantásticas, aventuras mil.
“Compra, pai.
Olha! É o livro novo!”
“Você está
louco, menino? Viu o preço? Vê lá se vou pagar tudo isso por um livro! Há coisas
mais importantes.”
Pois é, ler
também não era uma boa coisa.
Com tudo
isso, não é de admirar que sejamos tão depressivos!
Nosso
entusiasmo foi sendo bombardeado, a pouco e pouco. Demonstrar alegria, partilhar
conquistas, gritar de entusiasmo, escrever bilhetes de amor, viajar nas letras,
tudo perdeu a magia.
Vivemos num
mundo de negócios, trabalho, obrigações. Quem tem tempo para coisas pueris, sem
importância?
A
propósito, você tem filhos? Sobrinhos? Netos?
Pense nisso
com carinho, porque o amanhã ainda tem jeito. Depende de nós.
Texto da Equipe de Redação do Momento Espírita.