Marcelo
era filho de uma família pobre. Precisava trabalhar para ajudar nas despesas da
casa.
Marcelo foi
vender picolés. Depois trabalhar em uma padaria. Ganhava dez reais por mês, que
dava ao pai.
Saindo da
padaria, ele ia pescar. Os peixinhos que pegasse eram sempre importantes. Em
casa, se comia peixe com farinha.
Um dia, ele
ouviu o anúncio de que ia se formar uma banda na cidade. Pensou que fosse uma
banda dessas que tocam em bailes.
Queria ser
baterista. Mas o responsável tocava uma flautinha.
Marcelo se
apaixonou pela flauta. E quis se inscrever. O pai disse não.
Marcelo
descobriu então que o seu namoro com a flauta deveria ser às escondidas.
A inscrição
acabava às cinco horas. Hora em que ele estava na padaria, trabalhando. Quando
saiu, correu tanto que caiu da bicicleta.
Os peixes se
espalharam e ele ficou todo ralado. Chegou com duas horas de atraso ao local da
inscrição.
O homem teve
compaixão, vendo-o todo machucado e com tanta vontade de tocar flauta e o
inscreveu. O garoto tinha onze anos.
Só havia um
problema: Marcelo não tinha flauta, que custava dez reais.
Seu salário.
Salário do qual ele não podia dispor. Precisava juntar dinheiro. Durante um ano
juntou moedas perdidas de um centavo. Vivia olhando para o chão.
Comprou uma
flauta de plástico.
Mas não podia
estudar em casa, por causa do pai. À noite, ía para o alto de um cajueiro e
estudava. Lá também a guardava a sua flauta.
Até que uma
noite de chuva, resolveu levar a flauta para casa, com medo que a água a
estragasse.
No dia
seguinte, quando voltou da padaria, o pai o esperava. Queimou a flauta que
encontrara e deu uma surra no garoto.
Desistiu da
flauta? Não! Ficou mais um ano juntando centavos até comprar outra. Aí ele
arranjou uma aluna. Dez reais por mês.
Outra aluna,
mais dez reais. Logo, tinha nove alunas. Noventa reais.
O pai viu que
a flauta dava dinheiro e deixou de perseguir o menino.
Um dia,
Marcelo se propôs a ensinar flauta para crianças que não pudessem pagar.
Aos 18 anos,
Marcelo já formou uma orquestra de flautas na cidade de Aquiraz, a uma hora de
Fortaleza, no Ceará.
Seu sonho:
formar outra orquestra de flautas, na cidade de Serpa. O problema? As crianças
são muito pobres, não têm dinheiro para comprar flautas.
Entretanto,
isso não o detém. Sabe que conseguirá.
Numa conversa
entre amigos, Marcelo revelou outro sonho: ter uma flauta transversal. Mas ela
custa muito caro. Quase dois mil reais.
Bom, esse
sonho já foi realizado. Uma professora lhe deu de presente a flauta.
Ela possuía
uma guardada em casa, numa caixa de veludo. Flauta que ninguém tocava.
Hoje, Marcelo
já está tocando com a sua flauta tão sonhada...
***
Se tudo em
volta se veste de escuridão e o dia claro já passou, substituído pela noite
pavorosa do desalento, insiste um pouco mais.
Não desistas
com facilidade.
Permita-te
uma nova tentativa.
Tenta outra
vez e espera a ajuda de Deus.
Vencerás.
Equipe de Redação do Momento Espírita, com base no cap. 5, parte 2, do livro Um céu numa flor silvestre, de Rubem Alves, ed. Verus e cap. 20 do livro Momentos de coragem, Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Franco, ed. Leal.