Um dos
maiores temores que vibram no coração do homem é o medo do castigo divino.
Convivendo
com a possibilidade de que Deus possa se ofender e castiga-lo por suas faltas, o
indivíduo sofre e se divide entre o amor e o temor de Deus.
Atribuindo ao
Criador os mesmos vícios que ainda possui, o ser humano teme ser castigado a
qualquer momento por um Deus caprichoso e cruel que está sempre à procura de
defeitos para se vingar, impondo-nos sofrimentos.
Paulo, o
apóstolo, se manifestou a respeito desse tema dizendo o seguinte:
“Gravitar
para a unidade divina, eis o fim da humanidade.
Para
atingi-lo, três coisas são necessárias: a justiça, o amor e a ciência. Três
coisas lhe são opostas e contrárias: a ignorância, o ódio e a injustiça.
Pois bem!
Digo-vos, em verdade, que mentis a estes princípios fundamentais, comprometendo
a idéia de Deus, exagerando-lhe a severidade.
Duplamente a
comprometeis, deixando que no espírito da criatura penetre a suposição de que há
nela mais clemência, mais virtude, amor e verdadeira justiça, do que atribuis ao
ser infinito.
Quem é, com
efeito, o culpado? É aquele que, por um desvio, por um falso movimento da alma,
se afasta do objetivo da criação, que consiste no culto harmonioso do belo, do
bem, idealizados pelo arquétipo humano, pelo Homem-Deus, por Jesus-Cristo.
Que é o
castigo? A conseqüência natural, derivada desse falso movimento; uma certa soma
de dores necessária a desgosta-lo da sua deformidade, pela experimentação do
sofrimento.
Assim, o que
se chama castigo é apenas a conseqüência das leis naturais.
É graças à
dor física que a criatura procura o remédio para sua enfermidade. É graças ao
sofrimento moral que a alma busca a própria cura.
O sofrimento
só tem por finalidade a reabilitação, o retorno do aprendiz ao caminho reto.
Como podemos
perceber, o mal não é de essência divina, é gerado pelas criaturas, ainda
imperfeitas.
O sofrimento
não é imposto por Deus como castigo, é o efeito natural do falso movimento da
criatura, e que a estimula, pela amargura, a se dobrar sobre si mesma, a voltar
ao objetivo traçado pelas leis divinas, que é a harmonia.
E essas leis
são justas, imparciais e amorosas.
Um exemplo
disso acontece quando um homem, enlouquecido, assassina várias pessoas, foge e,
na fuga, se fere profundamente.
O que
acontece com seu organismo?
Suas células,
obedecendo a lei natural, começam imediatamente a se movimentar para estancar o
sangue, cicatrizar a ferida e expulsar os germes que causam infecção.
Se Deus
quisesse castiga-lo, derrogaria suas próprias leis e faria com que as células
desse indivíduo não trabalhassem a seu favor, mas se rebelassem e o deixassem
morrer.
Afinal, ele é
um criminoso!
Mas não é
isso que acontece. As leis divinas seguem naturalmente seu curso. O sol brilha,
incansável, sobre justos e injustos, sem se importar com o que acontece sob sua
luz.
A chuva cai
sobre a mansão e sobre o casebre. O frio fustiga a pobres e ricos. As
catástrofes naturais arrebatam sábios e ignorantes, velhos e crianças, fortes e
fracos.
Por todas
essas razões devemos entender que o Criador não derroga suas próprias leis para
nos punir ou para nos premiar.
As nossas
ações é que geram efeitos sobre essas leis.
As boas ações
geram efeitos positivos, e as infrações às leis geram efeitos desajustados.
Nada mais
justo do que esta sentença: “a cada um segundo suas obras.”
Nem castigo,
nem perdão. Deus não castiga porque suas leis são de amor, e não perdoa porque
jamais se ofende.
Pensemos
nisso, e busquemos atender essas leis soberanas que estão inscritas em nossa
própria consciência.
Texto da Equipe de Redação do Momento Espírita, com base no item 1009 de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec.