Momento Espírita
Curitiba, 22 de Novembro de 2024
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ícone Fissuras

A parede era robusta, aparentemente inabalável.

Suportava ventos fortes e chuva intensa há anos.

Fazia parte de uma grande fortaleza, que ninguém arriscava atacar porque parecia ser inconquistável.

No entanto, na sua face sul, onde o sol raramente tocava, havia uma irregularidade quase imperceptível.

Era o resultado da pressa em sua execução ou, quem sabe, do descuido de um dos executores da obra.

Agora, porém, isso pouco importava. Afinal, aquela muralha fora erguida há muito tempo e os responsáveis por ela nem mais andavam sobre a Terra.

No entanto, aquela imperfeição foi servindo de depósito natural da água da chuva e dos detritos trazidos pelo vento.

A água foi se infiltrando no muro e trilhando um caminho próprio, em busca de uma saída entre as rochas reunidas por espessa argamassa.

Com o passar do tempo, uma fissura surgiu onde antes havia apenas uma depressão quase invisível.

Alimentada pelas águas das chuvas e pelo limo, que invadira a parede úmida e fria, foi se expandindo, até tornar-se uma assustadora rachadura.

Agora, era vista mesmo à distância e parecia ameaçar a solidez de toda a estrutura.

O tempo corria veloz sem que providência alguma fosse tomada.
A rachadura corrompeu a parte inferior do muro que, atingido pela umidade, deteriorava-se a olhos vistos.

Em uma noite fria, quando o temporal ruidoso e inclemente avançava sobre a praia próxima, a ventania atingiu a muralha com violência.

E ela, que suportara ventos ainda mais fortes, dessa vez não resistiu.

Corrompida pela água, que agredira a sua base e parte de seus materiais, a grande parede tombou, pesadamente, como se estivesse cansada de resistir.

Como um robusto carvalho se permite um dia tombar depois de anos de majestade, também ela, traída pela pequena fissura, entregou-se à ação do tempo.

Uma simples fissura, decorrente de uma imperfeição aparentemente insignificante, causou a queda do grande muro.

Os que passam ao lado das ruínas daquilo que um dia foi uma imponente fortaleza, ignoram que a destruição daquele monumento grandioso iniciou-se com uma mera e banal rachadura.

*   *   *

Assim também são os vícios humanos.

Hábitos infelizes, considerados atitudes comuns na sociedade, podem corromper nossas mentes.

Hoje são apenas fofoquinhas a servir de passatempo aos desocupados.
Amanhã serão mentiras ardilosas a destruir lares e prejudicar vidas.

Hoje, são apenas alguns goles de bebida alcoólica para descontrair.
Amanhã, serão drogas pesadas a arruinar centros nervosos e lesionar profundamente os destinos.

Os vícios surgem como pequeninas fissuras na conduta humana.

Em um primeiro momento não despertam grandes receios e chegam, até, a ser ignorados pelos menos avisados.

No entanto, com o passar do tempo, vão se agigantando e invadindo o espaço que deveria ser da virtude.

Abalam estruturas que pareciam sólidas e destroem futuros venturosos.

Arrastam o ser para o lodaçal da culpa e do arrependimento, onde se encontram os escombros das ilusões do ontem.

Estejamos atentos. Pensemos com seriedade a respeito.

Redação do Momento Espírita.
Em 29.1.2022.

 

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