Abuzit, famoso naturalista, morava em Genebra.
Todas as manhãs, com a maior cautela, ele media a pressão do ar e anotava-a cuidadosamente.
Assim ele procedia, seguindo a marcha de seus estudos, ha vinte e dois anos.
Um dia, uma nova criada começou o serviço por uma grande limpeza no seu gabinete de trabalho.
Abuzit, ao entrar, perguntou-lhe preocupado: “onde você pôs os papéis que estavam aqui, junto ao barômetro?”
“Queimei-os, senhor.” – respondeu a moça com tranqüilidade –“estavam sujos e amarelados.
Mas não se preocupe, patrão, porque coloquei papel limpo no lugar deles.”
O naturalista, num relance, deu-se conta do desastre.
A jovem, por ignorância, havia atirado ao fogo todas as tabelas numéricas, destruindo o trabalho metódico e paciente de vinte e dois anos.
O que lhe disse, então o sábio?
Cruzou os braços, quem sabe para reprimir a tempestade que ameaçava se desencadear nele, e depois falou-lhe com serenidade: “você acaba de atirar ao fogo o resultado de vinte e dois anos de trabalho.
De hoje em diante, peço-lhe encarecidamente que não toque em coisa alguma que estiver no meu gabinete.”
Reagir violentamente às ofensas e aos prejuízos que nos atingem as fibras mais íntimas não resolve os dramas estabelecidos.
Ao contrário, em geral a reação violenta costuma causar novos males, em um ciclo contínuo.
Paulo, o apóstolo dos gentios, orienta-nos que não devemos deixar que o sol se ponha sobre nossa cólera.
Jesus, irmão e mestre, convida-nos à reconciliação com os nossos inimigos, enquanto estamos a caminho.
Ele nos ensina que o sacrifício mais meritório aos olhos de Deus é aquele que diz respeito ao ressentimento superado pela criatura.
Questionado sobre tal tema, Jesus afirmou que devemos perdoar não apenas sete vezes a ofensa recebida, mas sim, setenta vezes sete vezes.
Estabeleceu, assim, o perdão incondicional e ilimitado.
O exercício do perdão ensina às criaturas o esquecimento de si mesmas, tornando-as invulneráveis às injúrias e aos maus procedimentos.
Além disso, o mérito do perdão é proporcional à gravidade do mal sofrido.
Não há nenhum merecimento em relevar agravos que não passam de simples arranhões e que não nos atingiram efetivamente.
Tampouco pode o perdão das injúrias ser um termo vão, que atinge apenas os lábios.
O verdadeiro perdão é aquele que lança um véu sobre o passado, esquecendo completa e absolutamente qualquer ofensa.
Somos responsáveis também pelos nossos pensamentos, os quais, todos, são conhecidos do Pai Criador, que sabe o que pulsa no coração de cada um de seus filhos.
Ele não se satisfaz com meras aparências, sondando o recesso de nossos corações e nossos mais secretos pensamentos.
Extirpemos
de nossa intimidade qualquer sentimento de rancor, a fim de sermos merecedores
do perdão que nós próprios pleiteamos perante Deus.
Pense
nisso!
Perdoar aos inimigos é pedir perdão para si próprio.
Perdoar aos amigos é dar-lhes uma prova de amizade.
Perdoar as ofensas é mostrar-se melhor do que era.
Perdoemos a fim de que Deus nos perdoe, porque se formos intransigentes e inflexíveis para com nossos irmãos, como poderemos querer que o pai seja indulgente para com as nossas faltas?
Pensemos
nisso!
Equipe de Redação do Momento Espírita, com base no livro Lendas do Céu e da Terra, de Malba Tahan, p. 100, 22ª edição, Editora Record e capítulo X de O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec.