Narra
um psicólogo que um casal trouxe o filho ao seu
consultório. Garoto de quatorze anos, cabeludo,
foi descrito pelos pais como um terrível
problema. Ele já havia fugido de casa inúmeras
vezes, só retornando ao lar por interferência
policial.
O
relacionamento entre pais e filho era muito
ruim. A mãe chorosa disse ao psicólogo que não
sabia mais o que fazer. Tudo que ela e o marido
podiam, davam ao filho. Ele não tinha do que
reclamar. Roupas, carro, dinheiro, viagens. E o
comportamento não melhorava.
O
terapeuta iniciou uma série de sessões com o
adolescente. Depois de algum tempo, conquistou a
sua confiança e o jovem contou o seu drama
emocional:
Meus
pais não ligam para mim. Dão coisas para mim,
até o que nem quero. Mas, nunca fazemos alguma
coisa juntos. Quando tento falar com meu pai,
ele nem me olha. Muito menos me escuta. Já vai
perguntando se eu quero mais dinheiro. Minha mãe
vive a me criticar o cabelo, o brinco na orelha,
mas nunca me ouve.
Estava
descoberto o problema. A causa da rebeldia do
garoto chamava-se rejeição. Os pais lhe davam
coisas materiais mas não se doavam a ele, em
momento algum.
Psiquiatras,
psicólogos, educadores e religiosos já se
posicionaram, oportunamente, dizendo que a
melhor atitude pessoal para ajudar alguém em
dificuldade, e em especial a juventude, é o domínio
da arte de prestar atenção. O que quer dizer,
se interessar pela pessoa.
Ouvir
como quem deseja mesmo se inteirar do problema.
Observar atitudes que estejam a dizer: olhem
para mim.
Isso
porque toda criatura humana sente necessidade de
ser ouvida. A ausência dessa atenção causa
muitos problemas psicológicos a crianças,
jovens e adultos.
Em
verdade, a criança manhosa que fica puxando a
saia da mãe ou o braço do pai, o adolescente
revoltado, o desordeiro, até um determinado
ponto estão gritando: eu quero a atenção de
vocês.
E
quem de nós não pode ceder alguns minutos para
ouvir? Quando Anne Sullivan encontrou a menina
Helen Keller, cega, surda e muda, ela parecia em
seus seis anos de idade um animal selvagem.
Fechada em seu mundo, sem conseguir ser
entendida, quando não faziam aquilo que ela
queria, dava beliscões, pontapés, mordidas.
Anne
Sullivan realizou o milagre dando-lhe atenção.
Atenção apoiada em afeição, motivada pelo
interesse.
Anos
mais tarde, Helen Keller escrevia em suas memórias:
“senti passos que se aproximavam. Estirei a mão,
e alguém a pegou, fui levantada e segura pelos
braços daquela que, vindo para me revelar todas
as coisas, viera, acima de tudo, para me querer
bem.
Registrem
na memória essa relíquia de pensamento: a
moeda de ouro da atenção – aprendam a dá-la
graciosa e alegremente, que os dividendos hão
de voltar, derramando-se em vocês.”
***
Todos
os seres humanos têm necessidade de segurança
na jornada carnal, cheia de percalços.
Os
pais, os educadores, os adultos em geral são
modelos para a criança, que os amará, copiando
suas atitudes ou os detestará, também
incorporando inconscientemente sua maneira de
ser.
O
carinho na infância, o amor e a ternura, ao
lado do respeito à criança são fundamentais
para uma vida saudável.
Não
esqueçamos que os seres humanos que compõem a
nossa sociedade, com seus diversos
comportamentos, são a resultante da educação
na família e do seu nível de consciência
individual.
Fonte:
Revista Presença Espírita nº 219 de jul/ago
de 2000 pág. 14 – Os benefícios da atenção
de José Ferraz