Momento Espírita
Curitiba, 23 de Novembro de 2024
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Há várias espécies de dores capazes de atingir os corações humanos. Qual será a mais intensa?

Parece-nos ser aquela que estamos sentindo no momento.

Temos o costume de esquecer o passado e valorizar o sentimento presente como se nada de pior tivesse acontecido, ou pudesse vir a acontecer.

Isso é uma tendência muito natural do ser humano.

Mesmo assim, existem sofrimentos que se distinguem dos outros, e assumem, perante a maioria das criaturas, uma condição de maior gravidade.

A morte de um ser querido, por exemplo.

Não há quem não se comova, sofra, sinta verdadeiramente quando um ser amado abandona o envoltório corporal e parte para outro plano da vida.

Não importa se a desencarnação foi repentina, ou não. Se foi violenta, ou serena.

Não interessa se aquele que partiu contava avançada idade, ou se ainda era jovem.

Não há como mensurar essa dor.

Cada um a sente e reage a ela, de forma diversa.

Há aqueles que se entregam, blasfemam e se revoltam.

Há outros que choram, mas que aceitam, envolvendo suas dores no bálsamo da prece e da fé.

Há os que buscam modos nobres e belos para render novas homenagens àqueles que se foram.

Assim parece-nos ter agido o poeta Augusto Frederico Schmidt, que toca nossos corações com os seguintes versos:

Os que se vão, vão depressa,

Ontem, ainda, sorria na espreguiçadeira.

Ontem dizia adeus, ainda da janela.

Ontem vestia, ainda, o vestido tão leve cor-de-rosa.

Os que se vão, vão depressa.

Seus olhos grandes e pretos, há pouco, brilhavam.

Sua voz doce e firme faz pouco ainda falava.

Suas mãos morenas tinham gestos de bênçãos.

No entanto hoje, na festa, ela não estava.

Nem um vestígio dela, sequer.

Decerto sua lembrança nem chegou, como os convidados,

Alguns, quase todos, indiferentes e desconhecidos.

Os que se vão, vão depressa.

Mais depressa que os pássaros que passam no céu,

Mais depressa que o próprio tempo,

Mais depressa que a bondade dos homens,

Mais depressa que os trens correndo, nas noites escuras,

Mais depressa que a estrela fugitiva que mal faz traço no céu.

Os que se vão, vão depressa.

Só no coração do poeta, que é diferente dos outros corações,

Só no coração sempre ferido do poeta

É que não vão depressa os que se vão.

Ontem ainda sorria na espreguiçadeira,

E seu coração era grande e infeliz.

Hoje, na festa ela não estava, nem sua lembrança.

Vão depressa, tão depressa os que se vão...

*   *   *

Não permitamos que nossa dor nos impeça de perceber a beleza de cada momento.

Não deixemos que nossas lágrimas, por mais sentidas e justas, turvem nossa visão, impossibilitando que nossos olhos vejam a vida com clareza e serenidade.

Dediquemos aos amores que partiram pensamentos otimistas e repletos de confiança no reencontro futuro, sem desespero, nem revolta.

Se hoje, na nossa rotina, nos parecer que ninguém notou a dor que nos invade intensamente o peito, saibamos que nada, nem mesmo nossas angústias passam despercebidas ao Pai Celeste.

Confiemos, persistamos e prossigamos, sempre.

Redação do Momento Espírita.
Em 13.11.2019.

 

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