Momento Espírita
Curitiba, 17 de Abril de 2024
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ícone Vocação versus profissão

 

O termo vocação vem do latim, vocare, que quer dizer chamado.

Assim, vocação é um chamado íntimo de amor. Amor e prazer por um fazer que dá alegria e satisfação.

Quem atende a esse chamado íntimo, certamente, desempenhará suas atividades vocacionais com bom ânimo e disposição, não apenas pela remuneração, mas pelo prazer de fazer o que gosta.

Ouvir esse chamamento seria o ideal para qualquer ser humano que desejasse ser útil à sociedade na qual vive.

A excelência do seu trabalho por certo lhe traria, como consequência, uma recompensa financeira satisfatória.

No entanto, a realidade é bem diferente.

Os filhos crescem ouvindo os pais dizerem: Alegria não enche barriga, vocação nem sempre dá status. Então, o jovem precisa optar pela barriga cheia, nem que isso lhe custe a alegria de viver e a utilidade.

Aí ele escolhe uma profissão que lhe traga vantagens financeiras e status em vez de ouvir o chamamento íntimo da sua vocação.

Na vocação, a pessoa encontra a felicidade na própria ação. Na profissão, o prazer se encontra não na ação, mas no ganho que dela deriva.

O profissional, somente profissional, executa seu fazer  não por amor a ele, mas por amor a algo fora dele: o salário, o ganho, o lucro, a vantagem.

Já o homem movido pela vocação é um apaixonado pelo seu fazer, e faz até de graça, apenas por satisfação.

Essa diferença é fácil de constatar entre um político por vocação e um político por profissão.

A vocação política é uma paixão por um jardim, já que política vem de polis, que quer dizer cidade.

A cidade era, para os gregos, um espaço seguro, ordenado e manso, onde os homens podiam se dedicar à busca da felicidade.

O político é aquele que cuida desse espaço. A vocação política, assim, está a serviço da felicidade dos cidadãos, os moradores da cidade.

Dessa forma, um político por vocação é um apaixonado pelo grande jardim para todos. Seu amor é tão grande que ele abre mão do pequeno jardim que poderia plantar para si mesmo.

O político é, antes de tudo, um jardineiro.

O jardineiro por vocação dá sua vida pelo jardim de todos.

O jardineiro por profissão usa o jardim de todos para construir seu jardim, ainda que para isso aumentem, ao seu redor, o deserto e o sofrimento.

Essa grande diferença entre vocação e profissão pode se estender a todos os outros ramos de atividades.

Os médicos por vocação, por exemplo, exercem suas atividades com amor e prazer. Dedicam-se a salvar vidas por amor à causa que abraçam, de coração.

Existem também os profissionais da medicina. Mesmo sob juramento eles só atendem depois de saber quem vai pagar a conta.

Talvez esses sejam os que resolveram seguir o conselho dos mais velhos, quando esses diziam que alegria não enche barriga.

Poderíamos citar vários exemplos das diferenças entre profissão e vocação, mas isso não vem ao caso.

O que desejamos ressaltar é a necessidade de se ouvir e respeitar o chamado interior, a tendência íntima, a vocação.

Isso não quer dizer que não se deva receber para exercer sua vocação. O que dizemos é que o dinheiro deixa de ser o principal objetivo para ser uma consequência natural de uma atividade prazerosa.

*   *   *

Quando se trabalha só pela recompensa exterior, a atividade se torna um fardo pesado demais.

Quando se gosta do que se faz o desgaste é menor ou quase nulo.

Como disse o velho e bom Aristóteles: o prazer aperfeiçoa a atividade.

Quando se trabalha com prazer, o trabalho pode trazer ótimos resultados ao longo de uma existência.

Por essa razão, sempre vale a pena ouvir esse apelo íntimo chamado vocação.

Pense nisso!

 

Redação do Momento Espírita, com base no cap. 15, do livro
Mansamente pastam as ovelhas, de Rubem Alves, ed. Papirus.
Em  10.09.2012.

 

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