Momento Espírita
Curitiba, 28 de Março de 2024
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ícone Sobre o casamento
 

O escritor brasileiro Rubem Alves escreveu uma crônica muito inteligente, a respeito do tema casamento.

Eis suas palavras:

Depois de muito meditar sobre o assunto, concluí que os casamentos - relacionamentos - são de dois tipos: há os casamentos do tipo "tênis" e há os casamentos do tipo "frescobol".

Os casamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos, e terminam sempre mal. Os casamentos do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa.

Explico-me:

Para começar, uma afirmação de Nietzsche com a qual concordo inteiramente. Dizia ele:

"Ao pensar sobre a possibilidade do casamento, cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: você crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa até sua velhice"?

Tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar.

O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola.

Joga-se tênis para fazer o outro errar.

O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir sua "cortada", palavra muito sugestiva, que indica o seu objetivo sádico, que é o de cortar, interromper, derrotar.

O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o  jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo.

Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.

O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca.

Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la.

Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado.

Aqui, ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra, pois o que se deseja é que ninguém erre.

O que errou pede desculpas, o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos...

Em relacionamentos inspirados na ideia do "frescobol", o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração.

Bola vai, bola vem - cresce o amor...

Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim...

*   *   *

Pensemos nisso. Reflitamos sobre nosso comportamento nos relacionamentos que abraçamos.

Juntos, num mesmo jogo, numa mesma existência.

O bom jogador será sempre aquele que conhece o companheiro e que, acima de tudo, deseja vê-lo feliz.

 

Redação do Momento Espírita com trecho da crônica
Tênis e frescobol, de Rubem Alves, retirada do
 site recantodasletras.uol.com.br.
Em 16.08.2010.

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